Sob o olhar de Maurinho Adorno – Gazeta 06.10.2015
O buraco é mais
embaixo. Sempre
Ao sentar no trono para fazer a necessidade número 2, contemplei um rolo de papel higiênico depositado no pequeno armário de vime existente no banheiro. À minha mente poderiam ter vindo alguns pensamentos, como sua utilidade e seu processo de fabricação – dizem que é feito de sobras de todo e qualquer tipo de papel da pior qualidade, esbranquiçado com muita química e caulim. Mas, meu questionamento foi o prometido na embalagem: 45 metros lineares. Confesso que nunca desenrolei um rolo para saber se não fui ludibriado pelo fabricante com “propaganda enganosa”.
Um dia, na condição de fumante, contei os palitos de uma caixa de fósforos para me certificar da presença de 45 palitos. Decepção violenta, a contagem parou no número 38, isto é, fui roubado em 7 palitos, ou em 15% aproximados. Ninguém, em sã consciência, abre uma lata de massa de tomate e pesa o produto. O máximo que se faz em um supermercado é comparar os preços e, às vezes, os pesos de produtos concorrentes passam batido. Essa conferência se torna impraticável e não acredito que o Instituto de Pesos de Medidas, o IPEM, o faça ao pé da letra.
Nas feiras livres, as balanças nem sempre são auferidas para evitar os prejuízos das partes, seja do vendedor ou do comprador. Isso por um motivo simples: é caro fazer a checagem e regulagem no órgão governamental da área. Bom tempo era aquele em que, nessas feiras livres, as bananas eram vendidas por dúzia. Lembro-me que era praxe a “dúzia de 13”, isto é, ao se comprar uma dúzia, vinha uma delas de bonificação. Hoje é tudo na balança, uma forma aparentemente mais justa de não ser ludibriado. E, as indústrias e os comerciantes são artífices em tentar nos ludibriar. Há exceções.
Às vezes, vendo televisão ou lendo os jornais, vejo as liquidações, a maioria dos produtos chegando a 70% de descontos. Sempre com palavras apelativas em inglês. Honestamente, não acredito nisso, especialmente quando não há mudança de estação para justificar a renovação de estoques. Das duas uma, o preço original foi elevado para, aplicado o desconto, estar compatível com a necessidade do comerciante, ou, se ele pode dar 70% de descontos antes da promoção, antes estava roubando descaradamente o consumidor.
Essa enganação dos mirabolantes descontos é a mais torpe forma de enganar o consumidor. Uma amiga foi a um shopping e caiu nesse engodo. Saiu com inúmeras sacolas, feliz da vida, dizendo que havia feito ótimas compras, todas elas com desconto. É óbvio que comprou alguns itens desnecessariamente, pensando unicamente nas promoções. Como não deixo passar batido, expliquei que era uma forma vil dos comerciantes em enganá-la com as espetaculares promoções. Dei o recado, mas sei que ela não se convenceu. Ela deve ser bipolar, pessoa que no momento de euforia faz compras desmesuradas e, para justificar o consumismo, alega os bons negócios realizados.
Existe aquela promoção do “pague 2 e leve 3”, ou algo do gênero. A pessoa acha que fez um bom negócio, mas não sabe que a indústria e/ou o comerciante garantem a rentabilidade nas duas peças – a terceira foi paga, indiretamente. No meu banheiro, todo dia fico irritado com o desinfetante bucal, em cujo frasco está escrito: leve 500 ml e pague 350, induzindo a um desconto de 30%. Não sou muquirana, como muitos podem estar pensando, é que gosto das coisas certinhas, nos mínimos detalhes.
Na minha infância existia um sabonete denominado “Vale Quanto Pesa”, minha mãe comprava essa marca. Não sei se valia o quanto pesava, mas desde aquela época éramos enganados. Como também não sei se o papel higiênico “vale o quanto pesa”, até porque é vendido em rolo. Se vendido por peso – não estou sugerindo – com certeza diminuirão sua gramatura: daí, o buraco será mais embaixo.
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