segunda-feira, 14 de outubro de 2013

CRIANÇA DE AGORA CURTINDO OS BRINQUEDOS DE OUTRORA... MAIS UMA DAS APRECIADAS CRONISTAS DO SAPIENTE MAURINHO ADORNO; SÓ ESTAMOS AGUARDANDO O LIVRO!

Cantinho O IMPACTO 12.10.2013
As crianças de hoje. 
Luca não fugiu à regra
Maurinho Adorno


O pequeno Luca era esperto e questionava diariamente os pais sobre as mais variadas dúvidas e eles, Ademir e Lívia, sabiam que tinham que dar explicações convincentes para não sofrerem novos questionamentos. Um dia quis saber sobre seu nome:
– Mãe, por que na escola tem um menino que se chama Lucas e eu sou Luca.
Com a tranquilidade característica de sua pessoa, Lívia respondeu:
Na Itália o nome é Luca e no Brasil é Lucas. Quisemos homenagear o país de onde nossos avós vieram.
Sábado de manhã, dia sem escolinha, e lá vem o Luca com sua pergunta básica:
– Pai, o vovô disse que o senhor soltava maranhão quando era criança. O que é maranhão?
Em voz pausada, Ademir respondeu:
– Maranhão também é chamado de pipa, quadrado ou papagaio. É bonito e é gostoso soltar e ver o bichinho voar.
– Pai, o senhor faz um maranhão prá mim?
Ademir saiu com o filho e foi até uma papelaria, onde comprou algumas folhas de papel de seda, um carretel de linha Corrente “24” e foi até uma estrada rural apanhar um pedaço de bambu. Uma hora depois estava fazendo o maranhão sob os olhares atentos de Luca.
Passam-se alguns dias e vem o Luca novamente com suas indagações:
– Pai, o vovô me disse que o senhor jogava bolinha de gude. O que é isso?
Conhecedor da arte, Ademir explicou:
– São umas bolinhas de vidro pequenas. Cada um aposta, colocando as bolinhas num quadrado. Daí, a gente vai atirando com uma “certeira” – uma bolinha maior – e a gente ganha as bolinhas que acertar e tirar do quadrado.
E continuou:
Existem também o jogo de “birocas”. A gente cava 10 buraquinhos no chão e vai jogando, um menino de cada vez. Errou, passa a vez. É preciso acertar um buraquinho para tentar o segundo. Ganha quem chegar ao último buraquinho.
Ademir já previa a colocação de seu filho.
– Pai, eu quero jogar bolinha de gude.
Duas horas de peregrinação por 11 lojas de armarinhos – lojas de “R$ 1,99” – e lá estavam Ademir e Luca num terreno baldio jogando bolinhas de gude.
Dois dias após, ainda na mente a conversa que tivera com seu avô, Luca voltou a questionar o pai sobre seus brinquedos de infância:
– Pai, como é rodar pião? O vovô disse que na minha idade o senhor rodava pião.
Como explicar o formato de um pião? Ademir recorreu a umas fotos no Google, chamou Luca até a tela do computador e depois de algumas explicações, ficou à espera de um novo pedido:
– Pai, você compra um pião para eu rodar.
Essa missão foi difícil de ser desempenhada, pois o brinquedo está meio que em fase de extinção. Teve que recorrer a um armazém de bairro numa cidade vizinha. E lá foram os dois ao mesmo terreno baldio soltar piões. 
Manhã de domingo, Ademir vendo o Globo Esporte, Luca entra na sala correndo:
– Pai, o vovô disse que o senhor brincava de esconde-esconde. O que é isso?
Acabou o programa de esportes e o aperitivo que havia marcado com os amigos de futebol. O que se viu foi o Ademir voltado à parede, antebraço cobrindo os olhos e contando pausadamente até 10. Luca foi se esconder debaixo de sua cama. 
Memória fértil, Luca voltou com mais uma indagação:
– Pai, como é jogar peteca? O que é peteca? Vovô disse que o senhor jogava peteca.
Com todos os pedidos atendidos ao filho, Ademir já sabia onde comprar peteca. Foi até o Mercadão e, após uma hora, estavam todos jogando peteca na sala. Evidentemente, participaram a mãe Lívia e a irmã Isabela. Uma semana após o último pedido, na manhã de um domingo, Ademir entrou no quarto de seu filho. Os brinquedos de sua infância estavam abandonados em um canto. Luca estava à frente do computador, jogando. Ademir sentou na cama e chorou.

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