domingo, 20 de setembro de 2015

MAIS UMA CRÔNICA DO MAURINHO ADORNO QUE FALA DA BOA INFÂNCIA: AGORA FOCALIZA O LEITE PURO QUE VINHA DO SÍTIO E OUTRAS COISAS SAUDOSAS, LEMBRANDO O LEITEIRO ZÉ ORTIZ E D.MARIA GIANOTTI...



Antonio Carlos Gianotto compartilhou a foto de Maurinho Adorno.

22 min


Nosso Cantinho O IMPACTO 19.09.2015 – Maurinho Adorno

Meus pães e o
leite de carrocinha 
A carroça descia a Rua Ministro Cunha Canto, com diversos tambores de 50 litros de leite, proveniente da ordenha das vacas do sitiante José Ortiz. Ele era proprietário de um sítio no bairro do Fundinho, situado logo após a venda do Bruno, local em que é produzida a melhor linguiça de porco da cidade e onde são realizadas apresentações sertanejas, às segundas-feiras. Zé Ortiz, como era chamado, era amigo de meu pai e eu desfrutei da amizade de seus filhos, o advogado José Geraldo, o Lalo, agraciado “in memorian” com o nome do Complexo Lavapés; e o delegado Benedito Santana, outrora defensor das cores do Mogi Mirim Esporte Clube.
Toda manhã um de nós, filhos do Mauro e da Maria, saía à porta para pegar os dois litros de leite puro, cujo custo era acertado uma vez por mês, quando meu pai recebia seu salário. A vasilha de leite era um canecão de alumínio que ia imediatamente ao fogão de lenha. Alguém sempre acompanhava o momento dele levantar a fervura para retirá-lo do fogo. O leite ficava no recipiente até esfriar e formava uma camada de gordura, a nata, amarelada. Dela, minha mãe fazia manteiga e, muitas vezes, éramos chamados para a tarefa de bater a nata até que ela “virasse”, ou seja, desse o ponto da manteiga. Muitas vezes eu comia a nata no pão, com umas pitadas de sal.
No período matinal, o pão francês era comprado na Padaria do Fortunato Posi, o Naquinho, instalada na esquina das ruas Padre José e 13 e Maio, onde hoje está a Cachaçaria “Água Doce”. Ali nasceu minha amizade com os irmãos Virgínia e Eduardo, posteriormente contemporâneos de escola. No café da tarde, nós comíamos o chamado “pão feito em casa”, uma delícia elaborada pelas mãos de Dona Maria Gianotti, cujos filhos se tornaram grandes amigos. Gente simples, originários da roça – tal qual minha família.
O fogão a lenha era algo sensacional, pois mantinha o bule de café quente durante o dia todo. E era uma bebida que eu apreciava muito, e aprecio ainda, ao ponto de minha mãe, às vezes, me chamar de “enxuga bule”. Ela fazia o café, todos nós tomávamos e eu dava conta de todo o líquido restante. O fogão, além de ser usado para fazer as refeições servia também como instrumento de conservação de linguiças e toucinhos, dependurados em um varal de pau. Não tínhamos geladeira, aliás, poucos a tinham. Uma grande utilidade do fogão a lenha eram manter o ambiente aquecido nos dias frios de antigamente.
Naquela época, havia sempre um dia especial, o dia da matança do porco. Meu pai o destrinchava – às vezes com a ajuda de um amigo – e nós ajudávamos no ensacamento da linguiça. As carnes eram picadas e depois mergulhadas em banha quente, numa lata de óleo de 20 litros. Era a forma de conservação para quem não tinha geladeira. Com o correr dos dias, minha mãe mergulhava uma concha na lata e ia tirando os pedaços de carne, suficientes para a refeição de um dia. Sempre havia torresmo pururuca, iguaria que sempre gostei.
Os novos tempos mudaram tudo. Hoje o leite não é tão nutritivo, proveniente de um gado engordado à base de hormônios. Não há mais os fogões de lenha, exceto em poucas casas, e nem o saboroso café de coador. Em compensação, equipamentos dos mais diversos são colocados à nossa disposição, proporcionando mais conforto e entretenimento. É a vida do perde e ganha!

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  • Odinovaldo Dino Bueno Que apreciável homenagem, velho amigo Antonio Carlos Gianotto, a querida e saudosa mamãe - Dna. Maria Gianotti - sempre lembrada por suas inesquecíveis qualidades... Um fortíssimo abraço a toda admirável família Gianotto.
  • Antonio Carlos Gianotto Obrigado pelo elogio grande amigo Odinovaldo. Retribuo o abraço a você e a toda sua família que também é digna de homenagem por todas as qualidades e passado marcante na história de nossa querida cidade.
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