terça-feira, 26 de abril de 2011

DA REVISTA CRUZEIRO: ADEUS DO KUBITSCHEK

O adeus do peixe-vivo (colaboração do amigo do rádio - Carlos Roberto Botelho - de Mogi Mirim)

Repórteres: Eduardo Ramalho, Douglas Ferreira da Silva, Geraldo Viola e Elias Nasser

Juscelino Kubitschek de Oliveira, de 64 anos, nascido em Diamantina, descendente de tchecoslovacos, casado com D. Sarah, tendo duas filhas, Márcia e Maristela, avô, político desde 1930, deputado federal em 1934, Constituinte de 1946, Prefeito de Belo Horizonte, Governador de Minas Gerais, Presidente da República de 1956 a 1961, candidato oficializado do PSD à Presidência em 1965 – eis a personalidade mais importante do cenário político nacional que teve seu mandato de senador e seus direitos políticos cassados por ato do Presidente Castello Branco.

Vitoriosa a revolução democrática e anti-comunista, o Sr. Juscelino Kubitschek de Oliveira passou a viver seus dias e noites mais dramáticas. Estava êle convencido de que, mais cedo ou mais tarde, os chefes revolucionários marchariam de encontro aos seus direitos políticos, pois julgavam que o candidato do PSD à Presidência da República representava os interêsses contra-revolucionários e através dêles, caso fôsse eleito, poderiam voltar ao comando da política nacional os janguistas, comunistas e esquerdistas. Era, êle, pois, o inimigo número um da revolução vitoriosa. Os grupos militares batidos na luta política de 1954, quando tentaram impedir a posse de JK, empenharam-se duramente na liquidação do dirigente pessedista, e o Presidente Castello Branco convenceu-se de que a melhor forma seria, mesmo, a cassação do mandato de JK e a suspensão dos seus direitos políticos, afastando-o, dessa forma do páreo sucessório de 1965 e assegurando, também, a consolidação da revolução vitoriosa.

Kubitschek passou dias e noites de angústia, jogando tôda a sua imensa capacidade de articulação, sua arte política aprendida entre as velhas rapôsas mineiras, a prudência de Benedito Valladares, as conversas ao pé do ouvido de José Maria Alkmin, cercado de assessôres importantes e desimportantes – JK, otimista, ainda guardava uma tênue esperança de vir a ser poupado pela Revolução. Mas na semana decisiva, êle já compreendia que a solução encaminhada ao Presidente da República era fatal para seu destino político: não sobreviveria o candidato pessedista à Presidência. Sua sorte estava selada. Convocou seus redatores e preparou um discurso que pronunciou no Senado, pràticamente despedindo-se do povo brasileiro.

Desenvolveu-se uma intensa luta política e militar entre os grupos que defendiam teses diferentes: cassar ou não cassar Juscelino Kubitschek – era a questão. Prevaleceu a tese do Professor Francisco Campos, de que a Revolução teria de agir politicamente, eliminando o maior obstáculo político que a ela se opunha. O obstáculo era JK. O obstáculo foi removido, num ato frio e cortante do Presidente Castello Branco.

Às 20 horas do dia 8 de junho de 1964, a voz forte do locutor da A Voz do Brasil lia para todos os brasileiros a decisão tomada pelo Chefe da Nação. JK já não era senador. JK já não tinha direitos políticos. Desaparecera sua candidatura que apontavam vitoriosa.

Centenas de pessoas acorreram ao apartamento do Sr. Kubitschek, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema. Grupos mais exaltados, lacerdistas e juscelinistas, chegaram a entrar em luta corporal na rua. Choques da polícia postaram-se diante do edifício onde reside JK. Os salões do seu amplo apartamento encheram-se de amigos, correligionários, gente comum, choros, euforia, risos, beijos, despedidas. JK mantinha-se aparentemente otimista. Lançou uma proclamação ao povo brasileiro, defendendo-se e atacando. Carregaram-no nos braços os que lá estavam. Houve quem quisesse que êle fôsse à rua, incorporar-se à manifestação popular. D. Sarah, Márcia, Maristela, que são mineiras e prudentes, opinaram de forma diversa. Houve entrevistas a emissoras de rádio e tevê nacionais e estrangeiras. Jornalistas de tôdos os países lhe pediam entrevistas. Era a noite da despedida.


SÁBADO, 13 - GALEÃO
A dramática saída de JK

Fotos de Douglas Ferreira da Silva

Deixo o Brasil porque essa é a melhor forma de exprimir o meu protesto contra a violência de que fui vítima e, ainda, porque não subsistem, neste instante no País, as condições mínimas que me permitam prosseguir na luta de que jamais desertei, pela preservação das instituições democráticas.

São palavras pronunciadas por JK no momento em que, em meio a tremenda balbúrdia, embarcava para Madrid, em companhia de sua mulher, D. Sarah, depois de ter seus direitos políticos suspensos por ato da Revolução.

Sôcos, pontapés, vaias, gritos, vivas, ameaça de tiros. Era o ambiente no Aeroporto Internacional do Galeão no fim da tarde de sábado 13, três meses depois do comício das reformas na Central quando Jango provocou a sua própria deposição.

- O senhor impõe a ordem, pare com essa bagunça, se não... – disse, de revólver em punho, o comandante da Base Aérea do Galeão, Coronel Alfredo Corrêa. Os partidários do JK gritaram: Gorila, gorila! enquanto JK respondia ao Coronel: Nada posso fazer. É o povo.

Momentos depois o jato decolava. JK partia para o exílio voluntário, prometendo fazer dezenas de conferências na Europa e EE.UU.

O Cruzeiro on line é um trabalho de preservação histórica do site Memória Viva

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