domingo, 29 de maio de 2011

PRAZER E DESEJO - autor - Padre Fábio

SAPIENTE PARALELO ENTRE PRAZER E DESEJO: PADRE FÁBIO DE MELO...

(páginas do livro do Padre Fábio de Melo - lido por Lourdes de Almeida Bueno - uma senhora de 85 anos - que solicitou-me, devido a importância, a reprodução desta realidade... do ótimo livro "QUEM ME ROUBOU DE MIM?")

Neste mundo de tantas pressas, não há espaço reservado para o discurso que exige calma e tranquilidade para ser entendido. Entrevistas fúteis ocupam nossas tardes de domingo. Celebridades sem nenhuma opinião formada aparecem nas telas em rede nacional para repetir seus discursos tolos sobre questões tão sérias. Gente que posa nua nas revistas e se torna referência para nossos filhos. Somos obrigados a suportar os canais abertos de televisão com sua programação artificial, suas videntes tão cegas para as reais necessidades do nosso povo. Um povo que precisa de cultura, informação e entretenimento de qualidade. Um povo que passa a gostar do tosco, porque só isso lhe é oferecido.

Cantores que nunca aprenderam a cantar repetem, no programa de grande audiência, versinhos que ferem a inteligência e o bom gosto de uma nação que não sabe mudar de canal, porque descobriu nisso alguma forma de prazer. Enquanto isso, nossos reais valores, compositores de altíssimo nível, cantores e cantoras de excelente nível técnico e artístico se tornam atração para poucos, porque grande massa nem sabe que eles existem.

Este é o paralelo entre o desejo e o prazer. O desejo é mais profundo que o prazer. Ele, o desejo, precisa de tempo para ser despertado e vivido. O prazer não. É produto rápido. É igual o carboidrato de absorção rápida, que não leva tempo para ser assimilado pelo organismo. Desejo é alimento integral, demora para fazer digestão, e por isso alimenta por mais tempo.

O prazer é poço sem fundo. É círculo vicioso. Cria depedência que nos faz procurar por ele o tempo todo. O desejo, ao contrário, cria permanência, porque acalma. Sabemos onde ele fica. Ele movimenta para novas buscas, mas não desorienta. É alimento integral, enquanto o prazer é alimento refinado.

As sociedades estão cada vez mais consumindo os produtos refinados. Eles não exigem muito do organismo. Os produtos integrais, por serem mais substanciosos, exigem o dobro. E como não estamos dispostos a muito esforço, optamos pelo caminho mais simples.

Essa é regra que tem prevalecido. Nada pode nos privar do prazer. Sacrifícios não serão bem-vindos nos nossos tempos. As pessoas se esmeram por buscar os atalhos, porque não há disposição para trilhar a estrada mais longa, ainda que ela seja repleta de belezas e surpresas.

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