Mauro Adorno Filho
Cantinho O IMPACTO 31.08.2013
As cadeiras
de minha vida
Maurinho Adorno
A cadeira é um móvel presente em minha vida desde meus primeiros dias até os atuais, por isso eu sempre a admirei. Não somente uma, mas os diversos tipos de cadeiras, até mesmo aquelas que nos causam algum tipo de desconforto. Lembro-me, como se fosse hoje, da cadeira de balanço de minha avó Sofia. À tarde, ela de banho tomado, ficava a balançar, entretida com seu crochê, ou fazendo ninar um de seus netos. É interessante que, embora admirando esse tipo de cadeira, sempre a associei com pessoas idosas. Não trabalho com a ideia de adquirir uma, pelo menos por enquanto.
Ainda criança, eu comecei a admirar a cadeira de barbeiro. Uma vez ao mês, meu pai me levava para cortar o cabelo e meu barbeiro usava uma máquina manual que era um verdadeiro martírio, pois mais arrancava do que cortava os cabelos. O legal mesmo é que, após o corte, o barbeiro reclinava diversas vezes a geringonça e eu gostava muito quando ela ficava totalmente “deitada”, na posição em que os adultos faziam a barba.
A cadeira mais horripilante de minha vida sempre foi a do dentista. No Grupo Escolar “Coronel Venâncio”, eu fiz meus primeiros tratamentos dentários. Às vésperas dos agendamentos eu dormia pensando na maldita cadeira; era sentar nela e escutar aquele motor antigo, com som de britadeira, assim que a broca tocava no dente para fazer uma obturação. Hoje as cadeiras são confortáveis, o tratamento é menos dolorido, mas mesmo assim, esse tipo de cadeira eu abomino. Só de vê-la dá calafrios.
Um dia, ainda menino, ouvi uma de minhas irmãs dizer que o professor Benjamin Quintino da Silva era dono da cadeira de Química do “Monsenhor Nora”, colégio em que estudava. Fiquei imaginando como seria a cadeira. Deveria ter um espaldar alto, feita de madeira torneada, tal qual a de um rei, até que ela me contou o significado da “cadeira do Quintino”. Fui percebendo a riqueza da língua portuguesa, com palavras de significados diversos, e lembrei que minha mãe às vezes dizia “estou com cor nas cadeiras”.
Como sou fã de cadeiras, sejam elas convencionais ou não, em minha mente ficou marcada uma cena de uma jovem, mais feia que cego em tiroteio, que tomava “chá de cadeira” em todos os bailes do Grêmio Mogimiriano. Um dia, por compaixão, eu a tirei para dançar. E, nessa linha, fico triste quando assisto na televisão cenas deprimentes de pessoas tomando “chá de cadeiras” nas recepções dos hospitais, sentadas em cadeiras arcaicas como são os equipamentos hospitalares do serviço público. Vejo e imediatamente me vem à mente a necessidade de mudarmos os políticos corruptos que enlameiam a política. Não vejo solução a não ser, através do voto, determinarmos uma mudança de cadeiras.
Um dia resolvi abrir um escritório de representação de uma corretora de investimentos. Trabalhava com ações, fundos de investimentos, certificados bancários e letras de câmbio. Tinha 19 anos. Comprei móveis de uma empresa de Ribeirão Preto e satisfiz um desejo: uma cadeira giratória, reclinável, de encosto alto, cor preta e de estofado vermelho. Ela era tão confortável que no segundo dia de trabalho, acabei dormindo. Ainda bem que não entrou nenhum, cliente. O negócio não deu certo. Até hoje me pergunto: a cadeira deu sorte ou azar?
Por ocasião de meu acidente, conheci mais de perto a cadeira de rodas e sua utilidade aos portadores de necessidades especiais. Convivi com uma, simples, por aproximadamente dois anos; era meu meio de locomoção e “trabalho” nas duas clínicas de reabilitação que eu frequentava diariamente. Os mais abastados usavam o veículo motorizado, fabricado em alumínio e titânio. Nas horas vagas, assistia às partidas de basquetebol, com os colegas demonstrando grande habilidade e agilidade na condução daquelas verdadeiras máquinas.
Na instalação de uma cozinha planejada em minha casa - mesa nova - eu comprei umas cadeiras de pés mais altos que o normal e de encosto baixo. Tudo nos conformes até o dia 11 de agosto. Na hora do almoço, ao descer de uma delas, a bandida escorregou e fui ao chão. Muita dor. Os remédios fortes não resolviam. Ambulância do SAMU à porta com destino ao hospital. Resultado: fratura de fêmur, com direito a cirurgia. Conclusão: nesse “Dia dos Pais” ganhei como presente uma cadeira de rodas.
Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista,
ex-diretor dos jornais “O Impacto” e “Gazeta Guaçuana”.
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