Nosso Cantinho O IMPACTO 06.12.2014 – Maurinho Adorno
Papai Noel chega,
disfarçado de assaltante
Eu fiquei fã dos assaltantes que roubaram a agência do Banco Mercantil, na manhã de segunda-feira. Não tive oportunidade de conhecê-los, mas se um dia tiver, vou convidá-los para o “happy hour” tradicional das segundas-feiras, no Bar do Jorge, como forma de reconhecimento à maneira generosa em seus procedimentos. Iria até propor a algum vereador situacionista para que concedesse título de “cidadão mogimiriano” a cada um deles, homens caridosos, portadores de grande espírito de solidariedade humana que, num momento de paz, agiram com todo o sentimento natalino.
Existem assaltantes perversos, violentos, cruéis, abomináveis, e outros adjetivos mais. Sou fã daqueles que respeitam o próximo, mesmo quando armados de seus potentes fuzis ou metralhadoras. Alguns entraram em minha casa em determinada ocasião, levaram alguns pertences, e muitos mantimentos. Acredito que estavam com fome, provavelmente desempregados. Uma televisão foi no embalo, mas ela estatelou num terreno vizinho, no momento deles pularem o muro de minha casa. O ideal, penso hoje, seria ter um portão entre as propriedades para facilitar o trabalho deles. Vou acertar com meu vizinho.
Esses assaltantes eram pessoas boas. Eu explico. Eles devem ter ligado ao meu corretor de seguros, o Marcos Guilherme Franco, para assegurar que eu tinha apólice de seguro residencial. Assim, não me causariam prejuízo. Além do mais, eles escolheram um fim de semana em que estávamos em viagem, assim não nos assustariam. Evitaram prováveis infartos. Outros, em mais uma oportunidade, entraram em nossa garagem para levar um carro, mas tomaram todo o cuidado para não nos acordar. Fizeram o serviço num silêncio sepulcral.
Eu tive mais uma experiência nesse sentido. Uma noite, na casa de meu amigo Argemiro Repas, dois homens armados com revolveres, entraram para roubar meu carro. Foram corteses. Não nos ameaçaram, davam as ordens em voz baixa. Deu até vontade de convidá-los a bebericar a cerveja que tomávamos e participar do jantar que a Marites Repas estava preparando. Minutos após, meu amigo Wanderley Ricci, um exemplar Guarda Municipal esteve no local para fazer o Boletim de Ocorrência. Fiz questão de elogiar os assaltantes.
Assaltante bom é gente fina, e gente fina é outra coisa! O assalto ao Mercantil obedeceu a todas as regras do profissionalismo. As armas, fuzis de alto gabarito – importadas, é claro –, são normais: elas são instrumentos de trabalho, tal qual a colher para o pedreiro, o serrote para o marceneiro, ou o carro para o taxista. Sem armamento, o assalto não acontece. Mas, eles foram finos demais; eu diria, na língua inglesa, que eles são “gentlemen”. Não atiraram em pessoas, só no carro da Guarda Municipal, mas somente depois que os guardas desceram do veículo. Isso é preocupação com o ser humano!
Depois de assaltarem a agência bancária, de posse dos malotes com muito dinheiro, os beneméritos assaltantes jogaram milhares e milhares de reais para o povo sofrido que estava na fila do banco para pagar suas contas. Demonstraram solidariedade humana, bem ao estilo do lendário Robin Hood, o inglês que vivia na floresta, ia à cidade, roubava dos ricos e distribuía aos pobres. Algumas más línguas disseram que o ato foi para aglomerar os populares e atrasar o trabalho da polícia. Não acredito. Se fosse assim, atirariam notas de apenas R$ 2,00.
Dizem que “dinheiro achado não é roubado”, e foi com esse pensamento que um menino, desses espertos, “recuperou” R$ 6 mil das notas espalhadas pelo chão. Acho que ele pensou na Prefeitura e se compadeceu com os garis da Construrban, empresa encarregada da limpeza pública. Já pensaram o trabalho que esses homens teriam para recolher todos aqueles papéis esparramados pelo chão? Uma mulher de meia idade, encheu a bolsa e saiu correndo, com medo do gerente do banco fazê-la devolver a grana. Depois, disseram a ela que o seguro irá repor o prejuízo. Ficou aliviada.
Outra mulher que estava na fila para pagar a conta de energia, aquela com a Contribuição de Iluminação Pública (CIP) incluída, saiu correndo para o meio da rua com sua enorme bolsa. Vendo a dinheirama pelo chão, jogou fora o blush, o batom e o pó de arroz, para ter maior espaço. Só não jogou o smartphone. Em segundos estava com R$ 3.500,00 e, minutos após, entrava sorridente nas Casas Bahia para fazer as compras de Natal. No ponto de ônibus, duas horas depois, confidenciou à sua amiga, trabalhadora doméstica: “esse vai ser o melhor Natal de minha vida”. Essa mesma mulher ainda disse à amiga:
– Espero que eles voltem na próxima segunda feira: estarei esperando!
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