Sob o olhar de Maurinho Adorno – Gazeta 11.12.2014
Euzébio Rocha, o mestre
está virando no caixão
Euzébio Rocha deve estar virando no caixão, com a enxurrada de crimes cometidos contra os cofres da Petrobras ou, como digo sempre, contra o bolso vazio e furado dos brasileiros. Era um grande nacionalista e lutava incessantemente contra os grandes grupos econômicos estrangeiros, responsáveis por sugar nossos recursos, ou a vender caro seus produtos para um Brasil carente de produtividade e fundamentalmente importador. Eu o conheci no início da década de 70.
Homem visionário anteviu, como ninguém, as necessidades do país em explorar seu petróleo, para atender as necessidades futuras e se tornar independente do óleo negro estrangeiro. Mais ainda, pela manutenção do petróleo do subsolo brasileiro, uma menina nos olhos pelas empresas internacionais. Deputado federal constituinte em 1946, ele lutou bravamente na campanha do “o petróleo é nosso”, e viu o resultado de seu trabalho coroado de êxito em 1953, quando Getúlio Vargas assinou uma lei, instituindo o monopólio.
Conheci o Euzébio Rocha por acaso, como também por acaso fui sentar numa cadeira da Faculdade de Direito de Pinhal. Numa tarde, ao encontrar o amigo Orivaldo Bernardes de Oliveira Junior, ele me convidou para acompanhá-lo no vestibular. Topei e, alguns meses após, nos primeiros dias de aula, entra na sala um homem de baixa estatura, grisalho, mas com poucos cabelos, provavelmente consumidos pela sua luta nacionalista. Era Euzébio Rocha.
Na faculdade, os veteranos nos passaram a ficha do mestre. Se um dia um aluno estivesse com a intenção de evitar a aula de economia, era só mencionar a Petrobras, para Euzébio Rocha iniciar sua fala firme e dissertar sobre a estatal, até que o gongo tocasse anunciando o fim da aula. Era apaixonado e, na maioria das vezes, chegava a verter lágrimas: todos as viam escorrer pela face do professor.
Eu tive uma experiência ímpar com ele. Um dia ele nos dividiu em grupos e pediu um trabalho sobre economia, com o tema em aberto. Reunimos os colegas de grupo e a conclusão foi unânime: falar sobre a Petrobras e sua importância para o país. Fui encarregado de fazer o trabalho, numa época em que não existia um Google como fonte de informações. O jeito foi pesquisar na biblioteca e pedir umas matérias a um amigo da Folha de São Paulo.
Não posso dizer que o trabalho foi bem escrito, mas tiramos nota 10. Como não havia computador para formatar o texto, caprichei na estética, dedilhando uma máquina Olivetti, modelo Stúdio 44, a primeira que comprei, no ano de 1969. A apresentação do trabalho consistiu numa montagem de uma capa com fotos coloridas de poços de petróleo, a sede da Petrobrás no Rio de Janeiro, e funcionários da empresa uniformizados, e com seus capacetes amarelos. Essas fotos foram recortadas e montadas e acima delas, o título: “O Petróleo é Nosso”.
Algumas aulas após a entrega, Euzébio Rocha entrou na sala com os trabalhos, anunciou as notas deles, um a um, e os devolveu aos universitários. Deixou o nosso por último, elogiou e anunciou a “nota 10” e pediu para o doarmos a ele, para seu acervo pessoal. Ele ganhou o trabalho e eu fiquei sem cópia. Coisas da vida.
Nesses dias, com o conhecimento do covil de ladrões na empresa, a memória me trouxe o velho mestre de Economia Política, um homem sério e competente, cuja vida foi marcada pelo nacionalismo, em defesa dos recursos naturais do Brasil. Com certeza, ele criaria a pena de morte para esses sugadores do dinheiro público. Estaria hoje, se vivo fosse, em prantos, ao ver a sua Petrobras transformada de orgulho nacional em vergonha internacional.
2 comentários:
Olá. Três anos depois da publicação desse post, ouso dizer que Eusébio Rocha, de quem também fui aluna, revira no túmulo é por ver as mãos ávidas dos Estados Unidos sobre o pré-sal.
Se Eusébio Rocha revira no túmulo é por ver as mãos dos EUA sobre o pré-sal e a patetice contra a corrupção mantida para nos silenciar. Grande professor.
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