Os pais e a
preocupação com os filhos
No época de minha infância e de minha juventude, meus pais não tinham muito trabalho na minha criação de seus filhos. Não havia as drogas que hoje proliferam pelos quatro cantos da cidade, como também não havia preocupação com nossa segurança, pois a cidade era tranquila e todos se conheciam. Assaltos era história de ficção científica e os raros roubos eram de galinhas, ações praticadas pelos chamados “ladrões de fundo de quintal”. Mogi Mirim era uma cidade muito tranquila.
A preocupação deles era com nossos estudos. A formação educacional era perseguida com rigor. Tirar notas baixas provocava reprimenda na certa: proibir a brincadeira na rua, onde jogávamos bola, amarelinha, empinávamos pipas (chamadas de papagaio). Minha mãe impunha a mim e a meus irmãos a arte de respeitar vizinhos e professores. Não passava pela cabeça de nenhum de nós sermos chamados à diretoria da escola, para receber um pito do diretor. Fomos bem criados.
Minha mãe era a rainha das orientações, especialmente em relação ao nosso comportamento fora de casa. “Na missa, nem um pio”, dizia ela. E nós obedecíamos cegamente. Tive uma passagem interessante, numa festa junina em um sítio, em comemoração a São João ou São Pedro, não me lembro. Após a reza e o levantamento de mastro, entramos na casa dos anfitriões, onde foram servidos os doces da época. Mesa farta. De minutos em minutos, passava uma senhora servindo, e nós só pegávamos um após minha mãe acenar com a cabeça, em sinal de consentimento.
O mundo era outro, toda a família sentava à mesa para as refeições diárias, fato pouco comum em nossos dias pelas atribulações de todos. Nesses momentos se prestava a conta do dia: como foi a escola e quais as brincadeiras de rua. Hoje, uns ficam no computador jogando e outros em comunicação com os amigos pelo WhatsApp. Sem falar na televisão, com os filmes e as novelas. As crianças de hoje já nascem adultas, auxiliadas por atividades esportivas e culturais: judô, caratê, futebol, balé, aulas de línguas e outras mais.
Um dia, fui dar uma volta com meu filho mais novo, com o objetivo de falar sobre sexo: os perigos de contrair doenças venéreas e, principalmente, fazer sexo inseguro e ser premiado com uma gravidez indesejada. Nossa conversa não demorou muito: meu filho tomou a palavra e, de professor virei aluno. Contudo, nunca deixei de alertá-los para o perigo de certas ações e, de outro lado, o respeito às namoradas. Não querendo jogar confete na própria cabeça – ou na de minha ex-esposa – eles foram bem criados e hoje trilham o bom caminho, para meu orgulho.
Como todo pai, sou preocupado e os aconselho sempre, como se eles ainda fossem crianças. São recomendações principalmente quando eles saem de carro pelas estradas. “Está chovendo, cuidado; venha devagar; modere a bebida nas baladas”, fazem parte do terço que eu sempre rezo. Nenhum de meus filhos virou tabagista, talvez por eu sempre usar “faça o que eu digo, e não faça o que eu faço”, ao mesmo tempo em que me critico pelo vício.
O compositor baiano Dorival Caymmi exprimiu o amor dos pais, ao compor “Peguei um Ita no Norte", em cujo enredo o jovem sai de Belém do Pará em um navio de cabotagem, para iniciar vida nova no Rio de Janeiro. Ao se despedir de seus pais, ouviu a recomendação da mãe, e cantou: “Mamãe me deu uns conselhos, na hora de eu embarcá, meu filho, ande direito, que é pra Deus lhe ajudá, iá, aiá, aiá, aiá adeus Belém do Pará, aiá, aiá, aiá, aiá adeus Belém do Pará,”.
Crônica publicada em O IMPACTO, edição: 02.05.2015.
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