sexta-feira, 15 de julho de 2011

MOGI GUAÇU E A CIDADE DE CASA BRANCA: COMPARAÇÃO EM ATENDIMENTO MÉDICO MUNICIPAL...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Esquizofrenia e o PPA - Mogi Guaçu - SP

No dia 14 de Outubro de 2.010, por volta das 19:30hs meu irmão, portador de esquizofrenia, deu entrada no PPA (Jardim Novo) por estar em crise (confusão mental, agitação, delírios).
Foi atendido pelo Drº Neto, que ao ser informado de todo o histórico do paciente, medicou-o, solicitou que o mesmo deitasse numa das camas e solicitou vaga em hospital psiquiátrico através da central de vagas. A família foi comunicada que essa vaga provavelmente sairia na sexta-feira de manhã, mas a ambulância só poderia sair na sexta-feira à noite (após as 19:30hs).
Como meu irmão estava impaciente, agitado e com medo de agressividade a Guarda Municipal o restringiu (amarrou-o na cama). Portanto caso a vaga saísse, o paciente ficaria “amarrado” e exposto no PPA por 24 horas.
As horas foram passando, o paciente contido, medicamentos e mais medicamentos, nada de alimentação, meu irmão pálido, suando muito, ofegante, etc., e aguardando o dia amanhecer para saber se a vaga para internação estaria disponível.
Por volta das 2:20 da manhã, há 7 horas nessa agonia, meu irmão conseguiu libertar das amarras e fugiu do PPA. Tentei segurá-lo, gritei para as auxiliares de enfermagem me ajudarem e elas, sem levantar da cadeira onde estavam sentadas e olhando o catálogo da AVON, responderam que não é função delas ajudarem a conter pacientes e que eu deveria chamar a Guarda Municipal. Como eu poderia tentar segurá-lo e telefonar para a GM?
Meu irmão saiu correndo, dopado de medicamentos e eu atrás. Não conseguindo alcançá-lo acabei perdendo-o de vista.
Começou uma saga em busca do meu irmão. Nós, irmãs e cunhado, procuramos nas casas de outros familiares, nas ruas da cidade, nos bares, nas margens do rio, no Pronto Socorro, etc.
Não conseguindo encontrá-lo procuramos a Delegacia onde fomos informados que a família poderia registrar a ocorrência por desaparecimento após 24 horas e que o PPA é que deveria registrar a fuga de paciente mas isto não havia acontecido.
O dia amanheceu e procuramos o CAPS onde meu irmão faz tratamento. A recepcionista telefonou ao PPA perguntando se meu irmão havia retornado ou se algum desconhecido havia dado entrada naquela unidade de saúde.
O recepcionista do PPA informou que não havia paciente com aquele nome e nenhuma entrada de desconhecido.
Mais tarde viemos a saber que o recepcionista deu essa informação sem sair da recepção e sem procurar as auxiliares de enfermagem, o que segundo o enfermeiro não é obrigação da recepção procurar informações na sala onde os pacientes estão em observação.
Continuamos nossa busca e por volta das 14:30hs não tendo mais onde procurar ligamos na Santa Casa, Pronto Socorro e PPA. Desta vez a recepcionista, um pouco mais interessada, informou que a Guarda Municipal havia trazido um rapaz desconhecido, com problemas mentais que fora encontrado numa vala do cemitério do Jardim Novo.
Parece engraçado, se não fosse terrível, mas com a troca de plantão (médicos ,auxiliares e recepcionistas) ninguém sabia que um paciente esquizofrênico, em crise severa, havia fugido dali e que esse desconhecido poderia ser ele.
Nós, familiares, corremos ao PPA e nos deparamos com a pior situação em que um ser humano pode se encontrar: meu irmão amarrado na cama, completamente sujo com o barro do cemitério, com as roupas rasgadas, com os genitais expostos, com ferimentos pelo corpo sem terem sido limpos, com sangramentos em vários pontos onde as veias foram “estouradas” ao injetar medicamentos e para completar na mesma sala com mais 6 pacientes e acompanhantes. Isto é desumano, cruel, não percebemos ali nenhum sinal de respeito ao ser humano.
Conversando com as auxiliares de enfermagem fomos informadas que ele estava ali desde às 11horas da manhã, que foi trazido pelos Guardas Municipais. Vale lembrar que as 11:40horas a recepcionista do CAPS telefonou ao PPA e foi informada que não havia paciente desconhecido com problemas mentais.
Foi solicitado que aguardássemos o médico e depois de mais ou menos 40 minutos ele veio falar conosco e ficou surpreso ao saber que aquele paciente havia fugido do próprio PPA na noite anterior e não havia nenhuma anotação do ocorrido.
Começou-se então novamente a espera pela vaga em hospital psiquiátrico.
Depois de 3horas de espera, meu irmão continuava amarrado, sujo e exposto, fomos informados que a Central de Vagas havia fechado e como não conseguiu-se a vaga somente na segunda-feira poderia se tentar novamente, ou seja, meu irmão ficaria mais 36 horas naquela agonia( sábado, domingo e a própria segunda pois não adianta conseguir a vaga durante o dia pois a ambulância só pode sair as 19:30horas).
Entramos em desespero, aquela situação não poderia continuar. Com a ajuda de um parente próximo entrou-se em contato com o Sr. LUCIANO (SAÚDE) e também por indicação do próprio médico do PPA decidiu-se que irmão ficaria internado no HOSPITAL MUNICIPAL até surgir uma vaga para internação em H.Psiquiátrico. Mas ele teria que continuar amarrado devido a querer fugir. Suas mãos e pés estavam completamente inchados devido as amarras e como ele poderia suportar mais 36 horas amarrado e receber mais medicamentos se até esse momento havia tomado 13 injeções??
A ambulância levou-nos ao Hospital Municipal e finalmente Deus colocou em nosso caminho um anjo bom e acima de tudo uma profissional competente. A enfermeira quando viu o paciente disse que era um absurdo terem encaminhado para aquele local pois ela não tinha médico psiquiatra de plantão, ele havia tomado medicamentos demais e como ficaria ali por tanto tempo amarrado sem condições de ao menos soltá-lo para dar um banho? Pegou sua ficha e em apenas 15 minutos conseguiu o que todos da equipe do PPA não tinha conseguido: meu irmão foi encaminhado para uma unidade do CAPS que diferentemente de MOGI GUAÇU tem o acolhimento diurno e noturno, onde o paciente fica “internado” enquanto aguarda uma vaga em Hospital Psiquiátrico.
A ambulância levou-nos até este município onde fomos recebidos com educação, respeito e profissionalismo. O médico e o enfermeiro foram até a ambulância, conversaram com meu irmão e ele finalmente foi desamarrado, caminhou com o enfermeiro e do lado de fora do banheiro eu podia ouvir o enfermeiro falando com meu irmão com carinho e respeito: “ ei lava o outro pé vai ficar com um pé sujo e o outro limpo? Lava o rosto! Etc”. Depois do banho levaram-no até o refeitório onde ele após dois dias recebeu alimentação. Acreditem, mas até para mim e meu cunhado foi oferecido alimentação!
Passamos todo o ocorrido para o médico e também falamos sobre a doença do meu irmão. Saímos de deixando meu irmão medicado, limpo, alimentado, em confusão mental sim, mais deitado em um sofá vendo televisão.
Agora pensem comigo: porque MOGI GUAÇU não tem um CAPS que ofereça esse mesmo atendimento? A cidade não comporta esse atendimento? Como, se é um município bem maior do que aquele onde fomos atendidos e conseqüentemente com maior arrecadação? Porque o atendimento no PPA é tão frio e desumano por parte das auxiliares de enfermagem com as quais nos deparamos? Porque a ambulância só pode sair para internar os pacientes psiquiátricos a noite se os mesmos estão em crise desde a manhã? Porque os doentes mentais em crise não são tratados como qualquer outro doente que são internados imediatamente após a vaga? Porque médicos, enfermeiros e auxiliares do PPA não passam todo o ocorrido num plantão para o próximo para que estes já fiquem de prontidão diante dos casos graves ocorridos? Porque um paciente em crise tão séria tem que ficar no PPA aguardando vaga exposto numa sala com tantos outros pacientes e acompanhantes, não existe uma outra sala só para esses casos? São tantas as minhas perguntas que ficaria aqui escrevendo por dias e dias.
Sei que meu irmão é um paciente difícil pois quando não está em crise recusa as medicações e travamos uma luta diária para conseguir medicá-lo o que muitas vezes não conseguimos, mas independente de seguir um tratamento correto ou não nos momentos de crise deverá ser tratado com respeito e dignidade.
Finalmente quero agradecer ao Dr. Neto que foi o primeiro médico que atendeu meu irmão e fez tudo que lhe foi possível, a Guarda Municipal que segundo fiquei sabendo tiveram a maior dificuldade em tirá-lo da vala no cemitério pois ele se recusava a sair, ao Senhor Decio B. Souza Mendes que conseguiu com o Senhor Luciano que meu irmão fosse para o H.Municipal, a Enfermeira Lúcia que sabiamente resolveu o problema que se arrastava dois dias em apenas 15 minutos, a todos: médicos, enfermeiros, auxiliares e funcionários do CAPS de Casa Branca de onde meu irmão nem precisou ser encaminhado para H.Psiquiátrico pois em 10 dias estava ótimo e teve alta e principalmente a Deus que deu condições a meu irmão de suportar tudo que sofreu e conseguir sair de uma crise que pensávamos não sairia nunca mais.

Ana Rita S.L. Mello
Rita I. de Lima Coqueiro
José Carlos Rangel de Mello

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