quinta-feira, 22 de setembro de 2011

COMISSÃO DA VERDADE QUASE NÃO VINGA...

Inflexível

Intransigência de Dilma quase derrubou acordo por Comissão da Verdade

De Nova York, a presidente desautorizou acerto costurado por ministros e líderes partidários. Insistência de José Eduardo Cardozo permitiu votação

Gabriel Castro

A aprovação da Comissão da Verdade na Câmara, nos últimos minutos desta quarta-feira, esteve por um fio. Na longa negociação travada entre líderes partidários e os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, havia entre os deputados o consenso de que, se não fosse votada hoje, a proposta não voltaria à pauta tão cedo. E a teimosia da presidente Dilma Rousseff quase pôs tudo a perder.

O que mais irritou os líderes foi a posição da presidente Dilma Rousseff. Cardozo e Maria do Rosário aceitaram os termos propostos por DEM e PSDB, mas não imaginavam que a presidente fosse discordar do acerto. Resultado: logo depois que os líderes deixaram a sala de reuniões da presidência da Câmara, anunciaram o acordo e seguiram para o plenário, a ministra Maria do Rosário apareceu, esbaforida, e literalmente correu atrás de ACM Neto (DEM-BA) e Marco Maia (PT-RS).

O acordo havia caído depois que Dilma, impassível, vetou a aprovação da emenda do DEM. O texto estabelecia critérios para a escolha dos integrantes da comissão. Um deles, considerado problemático pela presidente, exigia que os nomeados tivessem posição imparcial em relação aos acontecimentos investigados. O acordo havia caído definitivamente. Tanto que, depois de ouvir o recado dado pelos constrangidos ministros, ACM Neto decidiu ir embora, convicto de que a negociação fracassara. Por acaso, encontrou Marco Maia, que voltava do plenário. O petista convenceu o líder democrata a tentar um último acerto. Funcionou. O próprio Marco Maia se irritou com a intransigência de Dilma: mandou dizer que, sem a votação nesta quarta, a Comissão da Verdade não voltaria à pauta.

O acordo só ressucitou pela insistência de Cardozo. O ministro deixou claro à presidente que, se os termos combinados caíssem, a própria Comissão da Verdade correria riscos. Dilma cedeu depois de alguns minutos. A conversa, aliás, já entra para a história como um dos episódios mais inusitados da República: como exigia sigilo, a negociação definitiva se deu dentro do minúsculo banheiro da sala onde a reunião com os líderes partidários ocorria, na presidência da Câmara. Lá dentro, Cardozo, Maria do Rosário, Marco Maia, o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o assessor especial do Ministério da Defesa, José Genoíno, tentavam achar uma saída para o impasse. Foi de lá que o ministro da Justiça convenceu Dilma de que era preciso ceder para salvar a comissão.

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