Marcos Valério apontaria participação de Lula no mensalão, diz revista
Condenado por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção ativa no julgamento do mensalão, o empresário Marcos Valério...
Condenado
por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção ativa no julgamento do
mensalão, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza quebrou seu
silêncio e acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de chefiar o
esquema de desvio de recursos públicos do mensalão.
Segundo
reportagem publicada pela revista "Veja", o empresário diz que o
pagamento de propina a políticos da base aliada do governo movimentou R$
350 milhões, quase cinco vezes mais que o apurado pela Polícia Federal,
por meio de doações clandestinas avalizadas pelo próprio ex-presidente e
seus aliados mais próximos. Lula comandaria a mobilização dos
empresários com o objetivo de irrigar o sistema com dinheiro.
De
acordo com a reportagem, o PT obteve desde 2005 o silêncio de Valério em
troca de promessas de adiamento do julgamento ou punição mais branda no
Supremo Tribunal Federal (STF). Depois da série de revezes na Corte,
que podem levá-lo a uma pena alta de cadeia, o empresário Valério
narrou, segundo interlocutores, que, fora os empréstimos de suas
agências, outras empresas contribuíam diretamente ao PT em troca de
vantagens no governo Lula - a reportagem não cita os nomes. Segundo ele,
o então presidente era o "fiador" dessas negociações, operadas e
registradas num livro pelo ex-tesoureiro do partido, Delúbio Soares.
"Lula era o chefe", teria dito. Valério contou também que os empréstimos
do Banco Rural às suas agências só foram autorizados pelo ex-presidente
da instituição, José Augusto Dumont, porque Lula deu seu aval. "Você
que é um banqueiro, você nega um pedido do presidente da República?",
questionou, conforme a "Veja". Com ajuda do Planalto, o empresário
também teria sido recebido no Banco Central para negociar a suspensão da
liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, cuja massa falida era de
interesse do Rural.
Valério relatou ter tido encontros com o
ex-presidente Lula no Palácio do Planalto, acompanhado do ex-ministro da
Casa Civil, José Dirceu, acusado pela Procuradoria Geral da República
(PGR) de chefiar o esquema do mensalão. "Do Zé ao Lula, era só descer a
escada", disse. A Casa Civil fica no quarto andar do Planalto, um acima
do gabinete da Presidência. Outro encontro teria ocorrido no Palácio da
Alvorada. Valério teria sido levado à residência oficial por Delúbio, um
habitué das partidas de baralho do ex-presidente.
O advogado
Marcelo Leonardo, que defende Marcos Valério, afirmou que a própria
reportagem diz que "as informações teriam origem em declarações de
amigos, familiares e associados". "Ele disse para mim que não deu
nenhuma entrevista e não confirma o conteúdo da matéria", afirmou. Mas
não nega. Questionado se vai processar a publicação por conta das
declarações atribuídas ao seu cliente, Leonardo disse: "Pelo estilo da
revista, não precise ou mereça".
O advogado do ex-ministro José
Dirceu, da Casa Civil, José Luís de Oliveira Lima, disse "achar
esquisito, para dizer o mínimo", que a revista tenha publicado a
reportagem às vésperas do julgamento de seu cliente, previsto para
começar nesta segunda-feira. Para defender o réu das acusações que
detalham ainda mais o esquema do mensalão e reforçam o envolvimento de
Dirceu, ele desqualifica o texto: "A Veja apresenta uma matéria fraca,
leviana, desprovida de fatos concretos, num exemplo de péssima conduta
jornalística, onde nem se sabe quem está falando".
À revista,
Valério se colocou como um agente de menor importância, a serviço do
partido do ex-presidente. "O PT me fez de escudo, me usou como um boy de
luxo. Mas eles se ferraram, porque agora vai todo mundo para o ralo",
afirmou. E sugeriu a punição do ex-presidente: "Não podem condenar
apenas os mequetrefes. Só não sobrou para o Lula porque eu, o Delúbio e o
Zé não falamos."
Ao longo dos anos, Valério diz ter tratado de
seu silêncio com o Paulo Okamoto, hoje presidente do Instituto Lula, em
vários encontros, um deles às vésperas de seu depoimento à CPI dos
Correios. A mulher do empresário, Renilda Maria Santiago, teria
procurado o petista numa das prisões do marido para exigir sua
libertação. "Ele deu um safanão na minha esposa", teria dito Valério.
A
reportagem diz que o empresário tem noites de sono atormentadas por
crises de pânico e teme ser morto. Por conta do escândalo, seus dois
filhos sofreriam humilhações e Renilda teria tentado suicídio três
vezes.
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