terça-feira, 11 de março de 2014

MEU VELHO CORETO... crônica agradável do jornalista Maurinho Adorno. Clique e relembre o seu coreto...

Maurinho Adorno
Nosso Cantinho O IMPACTO 08.03.2014 – Maurinho Adorno
O meu velho coreto.
Agora, do Jonatah também
Toda cidade que se preze tem um coreto em sua praça principal, pelo menos naquelas com mais de 100 anos de fundação, pois esse prédio redondo fazia parte da cultura nos velhos tempos. Não sei a data de construção do coreto da minha Mogi Mirim. Se ele foi edificado à mesma época da Matriz de São José, e inaugurado na mesma data, deve ser de 1942. Mas, acho que é construção mais antiga.
Os coretos, pequenos, eram sempre construídos numa área de 5 a 10 metros quadrados, e serviam como palco para apresentação de bandas, duplas caipiras e pequenos conjuntos musicais. Era também o palco principal servido aos políticos em seus comícios eleitorais. Na época, não era proibido o uso de bem público para as campanhas.
Eu nunca soube o motivo de ser construído de forma redonda, mas chego à conclusão de que era para dar maior visibilidade aos “astros” que se apresentavam no local. Era mais fácil dizer que eram vistos pelos quatro cantos ou por qualquer ângulo, mas, como são redondos, digo que era para os “astros” não ficarem de costas para o público. Artistas e políticos deviam gostar muito de sua forma de construção.
Como seu piso fica mais ou menos a um metro acima do nível da praça, há sempre um porão embaixo. Eu me lembro de uma bandinha que guardava seus instrumentos nesse compartimento, para não ter que transportá-los todos os finais de semana. Essa bandinha e os artistas da época se apresentavam gratuitamente, apenas pelo prazer de entreter a população.
Eu gostava de meu coreto. E gosto ainda, porque ele permanece lá na Praça Rui Barbosa, bem em frente ao final da Rua Padre Roque, outrora a principal via de entrada da cidade. Disse que gosto dele, porque ele trás excelentes recordações de meu tempo de infância.
Aos domingos, era hábito de minha família, e obrigação como católicos, ir à missa. Meu pai, “Congregado Mariano”, frequentava as missas e as procissões com uma fita pendurada no pescoço, e uma medalha de São José no peito. E, depois da missa das 10 horas da manhã, ficávamos um bom tempo na praça, no entorno do coreto, escutando a apresentação de bandas ou de duplas sertanejas.
Na verdade, nós não ligávamos muito para as músicas, um fato normal às crianças. Divertíamos brincando na praça e correndo em volta do coreto. E como era bom! Pena que logo meus pais chamavam a mim e aos meus irmãos para voltarmos para casa, onde almoçávamos macarronada com frango, prato “de luxo” aos domingos.
No sábado de carnaval, saí pela manhã para fazer um jogo da Mega Sena. Decepção: minha lotérica preferida, a da Rua Coronel Guedes acabara de fechar, exatamente às 11h40. Não sei o porquê de fechar mais cedo, uma vez que o horário de encerramento dos jogos é às 18h00. Mas, foi bom, aliás, ótimo. Minha lotérica me proporcionou a oportunidade de ver uma cena emocionante, em plena Praça Rui Barbosa, ou, em meu coreto. 
Ao me aproximar da praça, o semáforo fechou e eu vi no coreto – dentro dele literalmente – um senhor, já com certa idade, brincando com uma criança. O menino correndo em círculos e ele atrás, sob a observação de sua esposa, ela fora do recinto. Um filme passou em minha cabeça. Eu me vi ali, justamente no local em que eu brinquei por algumas vezes, graças ao descuido do jardineiro. A cena me intrigou. 
Ao chegar do outro lado da praça, em uma lotérica ainda em funcionamento, deixei minha esposa fazendo o “jogo da ilusão” de se ficar rico, e fui atrás da família. Contornei a praça e, desolado, vi o coreto vazio. Com os olhos atentos, percebi que eles rumavam em sentido contrário. Não tive dúvidas, saí e os parei do outro lado.
Aparecido Donizete Borsoni me contou que, juntamente com sua esposa Ângela Maria, sempre saem do bairro onde moram e levam o neto Jonatah, de apenas 4 anos de idade, para brincar no coreto. Conversamos muito pouco, mas ele me deixou uma importante mensagem, ao dizer: “nós precisamos cuidar das crianças para que elas se tornem responsáveis no futuro”. E essa formação, esse convívio, e esse carinho, ele estava dando ali ao seu neto, bem no meu coreto. Agora, meu coreto e também do Jonatah!

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