Sob o olhar de Maurinho Adorno – Gazeta 30.10.2014
Pão de queijo,
o grande vilão de Aécio
Apurados os votos, com Dilma reeleita presidente (a) da República, os analistas políticos começaram a discutir os motivos que levaram Aécio à derrota, após ter passado para o segundo turno como favorito. Essas discussões são interessantes, pois elas não ficam restritas aos jornalistas: nos botecos o assunto não era outro; o tema foi o preferido entre patrões e empregados; tomou conta das redes sociais e foi o burburinho em milhares de ligações telefônicas. Ninguém pode me desmentir: pelo menos no estado de São Paulo, quem ganhou foi a Telefônica. E, muito. Além de outras operadoras, é claro, pois esse pessoal é vivo demais.
Na televisão, um grupo filosofava sobre a influência da bebida alcoólica nas eleições, e o culpado seria o whisky ingerido pelo Aécio na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, na noite em que foi barrado pela “Operação Lei Seca” e se negou a fazer o teste do bafômetro. Um dos interlocutores, concordando com essa linha de raciocínio, disse: “se ele tivesse tomado cachaça naquela noite e durante toda a campanha, ele teria sido eleito, porque a cachaça é a bebida do povão”. Outro lembrou o Lula, dizendo: “ele percorreu o nordeste na campanha e tomava cachaça para acompanhar a buchada de bode”.
Nesse momento da conversa, acionei meu controle remoto e fui assistir o que um grupo discutia num respeitado canal de televisão. Ali, a culpa da derrota era o fato de Aécio ter tentado se aproveitar do Mensalão, tendo como telhado de vidro, o Mensalinho. Discutiram os montantes da corrupção de um e outro escândalo e, principalmente, a quantidade de corruptos que o doleiro deverá entregar à Justiça. Até que um letrado chegou a uma das mais brilhantes conclusões: “como foram um escândalo de cada lado, se fosse isso, teria dado empate sem margem de erro para cima ou para baixo, e a Dilma seria eleita, por ser mais velha que o Aécio”.
O sapato alto foi outra justificativa da derrota do Aécio. Disseram que, liderando as pesquisas no segundo turno, o candidato mineiro começou a desfilar com sapatos de solado mais alto e de bico fino, para mostrar superioridade ante a adversária. Os marqueteiros oposicionistas perceberam e partiram para a virada. Depois de muita discussão – Dilma é turrona – fizeram com que a ilustre petista vestisse as sandálias da humildade. Um repórter disse que a vitória foi dos marqueteiros; outro teve uma visão mais profunda: “foi do Clodovil, o criador das tais sandálias”.
A eleição foi uma roubalheira danada, segundo um dos jornalistas presentes a uma mesa redonda de quatro lados. “Deveriam instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o Tribunal Superior Eleitoral”. Silêncio sepulcral e olhar de curiosidade e indignação dos presentes. Até que ele saiu com essa: “estão dizendo que centenas de aviões chegaram ao Brasil pela manhã do domingo, trazendo milhares de cubanos para votarem na Dilma, a pedido de Lula e a mando de Fidel Castro”. Depois descobriram que o jornalista fazia parte do comitê de imprensa de Aécio.
No Cantinho dos Peixes, em Mogi Guaçu, descobriram um casal de mineiros, saboreando torresminho de traíra. Começou o maior bafafá, pois os paulistas passaram a chamá-los de traíras. Muita discussão, o Zezé Oliveira tentando colocar panos quentes, mas não deu outra, os dois, moradores do Ipê II tiveram que sair correndo, numa disparada tão grande que, quando perceberam, estavam entrando em Andradas, MG.
Nesses programas de televisão, os jornalistas, embora bem informados, não conseguiram desvendar os mistérios ou as “forças ocultas” que levaram o mocinho de BH a perder a eleição para a mocinha de BH. Faltou um pouco de perspicácia. Não atentaram ao maior vilão: o pão de queijo de Minas. Foi ele quem roubou a vitória do Aecinho. Eu explico.
Depois de escutar tantas barbaridades, resolvi ligar para minha amiga Eliza de Castro Ferraz, lá da bela cidade chamada Cristina, mulher politizada e sempre atenta às causas mineiras, das eleições ao pão de queijo. Ela colocou o aparelho em viva-voz para o marido Gilson escutar nossa conversa. Depois de duas horas – mineiro é vagaroso por natureza – ela desvendou todo o mistério: “Maurinho, a Dilma comprou todos os pães de queijo de Minas Gerais e distribuiu à população de casa em casa e, como você bem sabe, mineiro é movido a pão de queijo; não sobrou nenhum ao Aécio”. Uai, se a Eliza falou, tá falado! E, tenho dito, mas, deixando o dito pelo não dito.
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