Nosso Cantinho O IMPACT0–25.08.2012 - Maurinho Adorno
José Maria entra na era da urna eletrônica
A figura de José Maria Junqueira, o Zezão, era disputadíssima pelos políticos, por dois fatores fundamentais, ele era uma espécie de líder em seu populoso bairro e trabalhava arduamente nas campanhas eleitorais, ajudando a montar os palanques para os comícios, di
stribuindo folhetos de porta em porta e até saindo no braço quando encontrava resistência por parte dos adversários de seu candidato. Uma de suas especialidades era sair na calada da noite com alguns capangas para destruir as placas e os cartazes do candidato do outro partido. Era guarda de quarteirão, como reconhecimento do prefeito ao trabalho dedicado à sua campanha, e gozava do respeito ou do temor dos moradores de toda a cidade.
Zezão era conhecido não só dos políticos de sua cidade, Mogi Mirim, como também dos candidatos da região, e inúmeros deles solicitavam sua participação nas campanhas, pois todos acreditavam que ele era responsável por 50% de sucesso do pretendente ao cargo de prefeito municipal. Consta que em 1938, na eleição municipal de Itapira, ele trabalhou por diversos dias na campanha de Caetano Munhoz, pai do deputado José Antonio Barros Munhoz, depois de autorizado pelo diretório do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) de sua cidade. Não há registros nos anais da história de que ele tenha sido o responsável pela eleição de Caetano. Dizem que concorreu para a vitória o periódico “Itapira Jornal”, lançado pelo próprio Munhoz.
Nascido em 1916, Zezão era um homem feliz pelo caminho político que escolheu. Soube da promulgação da Constituição Brasileira de 1934 e ficou exultante ao saber que o país viveria na democracia, palavra bonita que ele, semianalfabeto, ficou sabendo que significava dar ao povo a liberdade e a justiça. E exultava quando escutava falar o nome do presidente Getúlio Vargas, o chamado “pai dos pobres”. Quando em 1937 o político deu o golpe e se tornou ditador para governar com um autoritarismo jamais visto na historia desse país, sem saber exatamente o significado do ato, reuniu amigos e tomou algumas doses de cachaça no bar do Gustavo. Tinha certeza de que a vida de sua esposa Magali e de seus 7 filhos iria melhorar.
Nas campanhas eleitorais, Zezão ganhava o dobro de seu salário na Prefeitura, cuja atividade era a de assentador de paralelepípedos nas ruas centrais da cidade. Para ele, o dia 1º. de maio de 1939 foi festivo não por ser uma data consagrada ao trabalhador, mas sim porque o presidente Getúlio Vargas criou por decreto o salário-mínimo e pelo anúncio de seu valor, 240 mil réis. Era esse o valor que deveria receber a partir daquela data – antes ganhava 140 mil réis. Eufórico, pediu para o Gustavo, aquele do bar, para calcular quanto ganharia em época eleitoral, somando seu rendimento pelo trabalho político e o de servidor público. Depois de conta prá cá, conta prá lá, conta dos nove fora, chegaram à conclusão de ele ganharia 520 mil réis, uma fortuna.
Nas eleições, Zezão reunia um grande grupo de amigos – os cabos eleitorais – para o trabalho de boca de urna. Ordenava: tirem a cédula do bolso das pessoas e coloquem a do “coronel”, se preciso baixem o pau. Destacava um grupo para ficar nas entradas da cidade para recepcionar os eleitores procedentes da zona rural. Eles eram transportados de Ford 1929 até uma chácara na periferia da cidade, o chamado “curral eleitoral”, onde eram anotados os números de seus títulos eleitorais, tomavam refresco e comiam sanduiches. Depois, cada um recebia a metade de uma nota de 500 mil reis; a outra metade era entregue após a votação. Lanches e refrigerantes tomados, novamente eram reconduzidos a seus lares. Tudo organizado.
Aos 80 anos, em 1996, Zezão foi até sua seção eleitoral e lembrou o tempo em que militava a favor dos coronéis. Antes, na esquina onde estava instalada a boca de urna, recebeu diversos santinhos dos candidatos a vereador e a prefeito. Jogou-os no chão, pois como haviam comentado, a votação seria em uma máquina inventada por pesquisadores do Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). E ali estava ele frente à urna eletrônica. Recebeu a ordem para operar a máquina e se embaralhou todo: por mais que digitasse só aparecia o nome do adversário de seu candidato predileto. Perdeu seu voto. Saiu esbravejando com um mesário: “essa máquina está roubando”.
e ex-diretor dos jornais O Impacto e Gazeta Guaçuana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário