Cantinho O IMPACTO 06.07.2013
Um grande circo,
seu nome é Brasil
Maurinho Adorno
Acordei e comecei a pensar sobre o tema da crônica de hoje. Rodei o Facebook, li os jornais, assisti a diversos programas de televisão, saí às ruas em busca de algo inusitado. Nada. A busca a fatos antigos não rendeu, pensei até em tomar um remédio para amnésia. Tomei três comprimidos, mas, nada. Resolvi então ir a um psiquiatra e, após ele, a um neurologista, pois não tinha dúvida de que estava com alguns neurônios estragados. Em ambos profissionais, o mesmo diagnóstico: “você está estressado”. Aconselharam-me a viajar, pegar uma praia, com direito a espetinho de camarão e caipirinha de vodka, ou uma relaxante pescaria.
A doença do século me pegou de calças curtas. Mas, percebi que os remédios prescritos pelos médicos eram ineficazes ao meu mal, pois eram inexequíveis. Como ir à praia com esses ventos gelados e com a ameaçadora chuvinha? Perda de tempo. Iria gastar dinheiro, ficar mais estressado e ganhar o cansaço da viagem. A conclusão óbvia é que um de meus médicos não entende bulhufas de pescaria. Com a água fria os peixes somem. Dizem até que “o mar não está prá peixe” com temperaturas baixas. Enfim, eu precisava resolver o problema com rapidez, pois a crônica teria que ir à redação no dia seguinte. E as rotativas não costumam esperar por estresse nem do diretor do jornal.
No começo da tarde, assisti alternadamente à TV Câmara e à TV Senado, depois sintonizei o Brasil Urgente, do José Luiz Datena, e emendei com o Jornal da Band. Na sequência, assisti ao Jornal Nacional, e fui teclando o controle remoto, passando pelos diversos programas jornalísticos da televisão paga. Eram cinco horas da manhã quando resolvi escrever. Senti que estava 100% curado. Curado sem pescaria ou banho de mar nas belas praias brasileiras. Era só sentar ao computador e deixar fluir. Tinha tema para umas 100 crônicas. Mas, como faço apenas uma por semana, resolvi fazer um apanhado do imenso turbilhão de informações e “causos” captados no dia anterior.
Nas emissoras do legislativo, os deputados e senadores estouravam champanhas, comemorando uma série de projetos aprovados nas sessões conjuntas: caiu a maioridade penal para 14 anos, o voto agora é distrital, baixaram seus salários para R$ 15 mil, reduziram o número de assessores para 2, mandaram vender os carros oficiais e saíram dos apartamentos funcionais. Ele serão habitados, doravante, pelos sem-teto.
Datena fazia um programa em que demonstrava, como sempre, sua perplexidade – falsa ao meu juízo – ante aos problemas relacionados à segurança. Bem próximo ao estilo antigo do apresentador Ratinho. Rasgou tantos elogios a um delegado que me pareceu ser seu amigo próximo. Contraditório, alguns segundos após, ele fez violentas criticas à própria polícia e ao Judiciário. Em minutos, anunciou a entrega de 5.000 viaturas à polícia, além de armamentos, e o novo piso dos policiais, R$ 7.800,00. Enxerguei algumas entrelinhas e dei risada.
No Jornal da Band, a presença do Geraldo Alckmin foi anunciada diversas vezes. Ele chegou, e em poucos minutos, resolveu todos os problemas do Estado. Anunciou que iria vender um helicóptero, como exemplo de austeridade. Ele estava, na verdade, pavimentando a estrada de sua corrida presidencial. Não disse se iria pavimentar ou recapear as estradas vicinais que não têm mais buracos, e sim, crateras. Imponente, decretou linha dura aos caminhoneiros que fazem seus protestos nas estradas paulistas. Tudo resolvido: os protestos pararam imediatamente, a passagem do Metrô caiu para R$ 1,00.
No jornal da Globo, apareceu uma Dilma Rousseff sorridente, anunciando ter eliminado 15 ministérios, demitido 15 mil cargos de confiança e concedido aumento de 100% aos aposentados e pensionistas do INSS. Passou o salário mínimo para R$ 4.300,00 e o piso salarial dos professores para R$ 8.600,00. Extinguiu o programa Bolsa Família, dizendo que não há necessidade, pois todos estão trabalhando. Disse também que há vagas a todos os jovens nas Faculdades Federais.
Acabei de acordar agora, com o toque do despertador. Viajei por grandes circos. Mas, percebi que ainda estou no Brasil. Havia sonhado desde a ida aos médicos. Não sei se estou estressado, mas sei que vou agora escrever a coluna de hoje.
Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista,
ex-diretor dos jornais “O Impacto” e “Gazeta Guaçuana”.
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