sábado, 30 de novembro de 2013

CRÔNICAS QUE DÃO BONS EXEMPLOS E EDUCAM: CHOQUE SEM ELETRICIDADE... Um sobrinho - muito sapiente - que, com a colaboração de um sábio delegado, formado, também na escola da vida, onde A PROVA VEM PRIMEIRO E, DEPOIS, AS LIÇÕES... BOM, VAMOS À DÁDIVA!


Nosso Cantinho – O IMPACTO – 16.11.2013
Choque sem eletricidade.
Curamos meu tio Américo
Não sou psiquiatra e muito menos um profissional ligado à área. Mas, um dia eu resolvi o problema de meu tio Américo Pimenta de Assis, com uma terapia de choque. Ao relembrar o fato, deixo para os entendidos o diagnóstico do mal de meu tio e as conclusões de sua cura. Não resolvi o problema sozinho. Benedito Santana Franco Ortiz, delegado de polícia de minha cidade à época, teve a participação mais importante, cabendo a mim a iniciativa e o acompanhamento da trama.
Meu tio passou a maior parte de sua vida trabalhando como caminhoneiro. Fazia fretes dentro de São Paulo até o final dos anos 60, quando comprou um “Chevrolet Brasil” para transportar tubos de fibrocimento de Osasco para Brasília. Naquela época, ele levava uma semana entre a ida e a volta, pois grande parte da estrada ainda não contava com asfalto. Era uma vida difícil. Uma vez ao ano ele vinha a Mogi Mirim e era uma festa: levava todos nós para um passeio, na carroceria do caminhão.
Com o passar dos anos, Brasília inaugurada, ele, minha tia Leonor (Nena) e meus primos Cesar e Suely se mudaram para Mogi Mirim e se estabeleceram com um bar, em uma rua próxima ao centro da cidade. Era local onde eu fazia o happy hour, saboreando os salgadinhos feitos na hora pelas mãos de minha tia e de minha prima Suely. Conversávamos muito até que em um dia, nesse mesmo bar, ele caiu, vítima de um infarto violento. Morreu antes de dar entrada à Santa Casa, e deixou saudades.
Alguns anos antes, numa noite, ele me chamou a um canto e me contou que, ainda quando morava na capital, havia traído minha tia. Percebi que sua voz estava estranha. Ele não estava bem. Eu o aconselhei a contar à tia Nena e pedir seu perdão. Entretanto, meu tio disse que, ainda em São Paulo, havia confessado seu adultério e que havia recebido o perdão de sua grande companheira. Percebi que ele estava muito alterado, com grande aflição. Num determinado momento, com voz embargada, ele chegou ao ápice:
– Eu preciso me entregar. Preciso pagar pelo crime que cometi.
Nessa hora eu notei que o caso era sério. E ficou mais sério quando ele me disse que tinha que ser preso para pagar seus pecados. O certo era, imediatamente, procurar um psiquiatra para que ele fosse tratado, mas me surgiu uma ideia de jerico na cabeça. Resolvi dar um choque nele, sem eletricidade. Eu disse a ele:
– Amanhã eu vou levar o senhor à delegacia e o senhor confessará “esse seu crime” ao delegado e vamos ver o que ele irá falar.
Marcamos para as 14 horas, em minha casa, a um quarteirão da delegacia. Uma hora antes, entrei no gabinete do Dr. Santana e relatei toda a história de meu tio. Ele compreendeu e se prontificou a ajudar. O delegado conhecia meu tio e a tarefa seria mais fácil. 
Voltei para casa e ele estava lá, sentadinho, conversando com minha mãe - sua irmã. Ela sabia de toda a trama que eu estava armando e o aconselhou a “se entregar”. Era o tudo ou nada. Obviamente que, se meu plano não desse certo, eu iria buscar recursos médicos especializados.
Entramos no gabinete do Dr. Santana na hora marcada. Meu tio em pé, frente a frente com o delegado.
– O que está acontecendo, seu Américo? 
Meu tio contou toda a história de sua traição conjugal: quantas vezes havia pulado a cerca, como iniciara e terminara o relacionamento, sua confissão à minha tia, e o perdão de sua companheira. Disse ao delegado que amava minha tia.
Dr. Santana ficou em pé e, com voz autoritária, disse simplesmente:
– O senhor cometeu um grande crime contra a sua esposa. O senhor nunca mais vai traí-la. Dessa vez eu o absolvo, mas da próxima eu o colocarei na cadeia. Pode ir.
Meu tio, meio atônito, perguntou:
– Então estou perdoado?
– Sim, desta vez o senhor está perdoado – respondeu o Dr. Santana.
Na saída, após descermos os degraus da escada da delegacia, tio Américo, com a voz completamente normal, me disse: estou aliviado! Ele estava curado, e viveu tranquilo até o infarto interromper sua jornada terrena.

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