sábado, 2 de novembro de 2013

OJERIZA, SENTIMENTO QUE TODOS TEMOS. OU NÃO TEMOS? BOA CRÔNICA DO PENSADOR MAURINHO ADORNO... Leia as dezenas de comentário na sequência...


Nosso Cantinho O IMPACTO 02.11.2013
Ojeriza, sentimento que 
todos temos. Ou não temos?
Maurinho Adorno
Ninguém pode dizer que não tem ojeriza por alguma pessoa, animal ou alimento. Assino embaixo e reconheço isso no Tabelionato de Notas. É uma palavrinha pouco usual, de origem espanhola, para expressar nossa repulsa, aversão, antipatia ou repugnância. E todos tem ojeriza a alguma coisa.
A Marlene, por exemplo, estava com o casamento em frangalhos, com discussões diárias. Ela e o Pedrinho não se entendiam em nada, desde a frequência aos compromissos sociais até a criação do Pedrinho Junior. Um dia, resolveu acertar as contas com o marido e, segundo me contou, disse a ele:
– Estou com ojeriza por você.
Pedrinho foi até uma floricultura e mandou fazer um ramalhete com duas dúzias de rosas vermelhas, um presente que não dava à esposa desde o casamento, há 5 anos. Marlene me contou, em detalhes, o desfecho:
– Ele achou que sentir ojeriza era ter desejo sexual. Expliquei detalhadamente e, após dois meses e diversos encontros com advogados, estávamos separados.
Essa tal de ojeriza é uma constante entre os seres humanos, como denominação de antipatia, visível no relacionamento de patrão e empregado, o primeiro sempre quer receber mais e o segundo, pagar menos. Usada como exemplo de repugnância, a palavra cabe bem na visão dos brasileiros para classificar a uma das mais criticadas categorias, a política. Eu pergunto: quem não tem ojeriza à classe política?
Na minha vida, conheci muitas pessoas que diziam ter ojeriza por quiabo, pela leguminosa ser gosmenta. Eu sempre gostei: é só dar umas mastigadas e ele desce garganta abaixo. Pode ser ingerido como salada ou com picadinho de carne. Concordo com os que não gostam da “baba”, mas basta fechar os olhos. Falando em comida gosmenta, lembrei-me de uma que muita gente tem ojeriza por ela: a ostra. Com sal e limão, mar à frente, eu consigo consumir algumas dúzias. Há pessoas que conseguem driblar a ojeriza, gratinando. Não gratinando a ojeriza, mas sim a ostra.
Ainda existem alguns alimentos que causam, em alguns, ojeriza ou repugnância. Eu gosto de alguns - talvez em virtude de minha origem caipira - que poderá causar espanto, como língua, fígado, rins, miolo, timo (hipófise), dobradinha, tripa e chouriço. Nas culinárias do Uruguai e da Argentina, as entradas finas são os chouriços (morcillas), timo (mollejas), as tripas finas (chinchulines). Às vezes, dispenso as magníficas carnes desses países e fico apenas nas entradas.
Na categoria animais irracionais, alguns têm ojeriza às baratas, às moscas ou às aranhas. Tenho um amigo, Pedro Caetano, que não tem medo e sempre que possível está com uma aranha às mãos. Eu, particularmente, tenho repugnância às baratas e aos pernilongos – não durmo com o zunido de um deles sequer, quanto mais com uma picada. Mas, o que me causa uma horrível ojeriza é o fio de cabelo na comida. Um deles, mesmo que seja de minha cabeça, é o suficiente para dar adeus a um bom almoço ou a um jantar. 
Brasileiro que é brasileiro não pode ter ojeriza por samba, mulher, cerveja e futebol, enquanto que os argentinos não têm a dois símbolos nacionais: o tango e Dieguito Maradona, e não tiveram nem mesmo no período em que o ex- craque cheirava cocaína. Não sei se o Edson Arantes do Nascimento criou ojeriza às mulheres negras, mas que somente namorou brancas, e isso ninguém pode negar, nem mesmo a Xuxa Meneghel. 
A Marlene, citada no início da crônica, tinha motivos suficientes para ter ojeriza pelo Pedrinho. Antes de casar, ele sempre se vestia com elegância e não deixava de passar os perfumes Terres D’Hermes e o Jo Malone ou o Milion, da Paco Rabanne. Após o casamento, mostrou seu outro lado: só tomava banho aos sábados. E deixou de passar os perfumes “para colaborar com o orçamento familiar”. 
Ainda bem que não tenho ojeriza por escrever, principalmente minhas crônicas. É a única coisa que sei fazer, “malemá” como diz o caipira. É interessante, pois se eu tivesse ojeriza, você não estaria lendo esse escrito. Ou já desistiu de ler nas primeiras linhas. Por ojeriza!

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