Nosso Cantinho O IMPACTO –07.07.2012
No país das drogas, eu conheci o Pozinho
Maurinho Adorno
Droga é droga. Foi o que aprendi desde criança. Mas, naquela época a droga mais comum era o cigarro. Meu pai fumava Continental sem filtro e somente no final de sua vida se curvou ao Minister, com filtro, a mesma droga da fabricante Souza Cruz, responsável em grande parte por sua morte. A maconha era uma droga rara, um vício de poucos, geralmente usada por pessoas simples. Em meados da década de 60, em um bar de esquina da Avenida da Saudade, a polícia prendeu o pedreiro Pedro Silva, por estar fumando um cigarro de maconha no banheiro do estabelecimento. Era apenas um fininho, pacau ou baseado, nomes do cigarro de maconha. Estardalhaço na rua. A corintiana – nome dado ao carro de polícia – chegou, desceram três soldados e algemaram o pobre coitado, com sua caixa de ferramentas, onde estavam um nível, um prumo, um metro e uma colher de pedreiro.
A prisão mereceu manchete de jornal, com direito a uma foto do trabalhador, visto pela sociedade como criminoso, e foi comentada por mais de um mês. Ao ler a matéria fiquei com pena do infeliz. Não fez mal a ninguém. Mas, na época era crime o uso da droga. Que droga. Se fosse hoje, o Pedrão não seria encanado. Com o aumento do consumo – o Brasil fechou acordo de importação como Paraguai e com a Bolívia – as autoridades começaram a perceber que o foco deveria ser os traficantes, concomitantemente a um trabalho de conscientização dos jovens sobre os malefícios da droga. Ações começaram a ser realizadas, contudo não foram ao cerne do problema, ou seja, o policiamento eficaz de nossas fronteiras.
No final da década de 60, o delegado Cyro Vidal Soares da Silva proferiu uma palestra sobre a maconha aos membros do Rotary Club. Eu estava lá fazendo a cobertura. Ele levou dois pés de maconha, mostrou aos presentes e pediu que denunciassem se vissem uma plantação daquela erva. Levou também alguns fininhos para mostrar aos presentes. Ao final, o delegado me chamou, ofereceu um fininho e disse: “Maurinho, leve esse cigarro, fume, sinta os efeitos e escreva para o seu jornal”. Ele tinha plena convicção de que eu me sentiria mal e escreveria condenando o uso dessa droga. Seria uma experiência fantástica, jornalisticamente falando. Refleti por alguns instantes e não aceitei. Tive medo de me viciar, essa é a verdade.
Em nossos dias, se a lei determinasse e os policiais fossem prender os viciados em maconha, os estabelecimentos penais seriam insuficientes para acolher os milhares ou até milhões de usuários. Liberaram para o usuário. Nesse espaço de tempo outras drogas começaram a entrar no país, como o LSD – um ácido altamente alucinógeno – a cocaína, feita a partir de folhas de coca, o extasy – uma droga feita em laboratórios e ultimamente o crack, uma droga feita de cocaína e bicarbonato de sódio. Durante toda minha vida passei longe das drogas, com exceção aos cigarros de papel. Convidado por diversas vezes, há um mês caí em tentação: fui conhecer o Pozinho.
Minha história com o Pozinho, por ser verdadeira, vou relatar: há meses passei a fazer parte de um grupo no Facebook, chamado “Amigos”, cujos componentes, na maioria, são guaçuanos. Fui convidado por Zezé de Oliveira, um amigo que não via há mais de 10 anos. Zezé, violeiro dos bons, faz dupla com o Mazza Barranco e cantam serestas fenomenais. Participei de alguns churrascos do grupo e em todas elas o Zezé me convidava para ir ao Bar do Pozinho, em Mogi Guaçu. Ele e seu companheiro cantavam no local às quintas-feiras. Nem ideia de como era o ambiente, mas também não me importava, pois eu não entraria numa fria. Eu não questionava nada, confiava nele. Resolvi conhecer o Bar do Pozinho.
No bar, questionei o proprietário Arcílio de Oliveira, o Pozinho. Precisava saber se ele era traficante ou consumidor de cocaína. Ele me explicou: seu pai, José de Oliveira, trabalhava em uma fazenda em Pinhal e aos finais de semana levava à cidade café em coco (com casca), de sua produção e de vizinhos. Esse café era moeda de troca para alimentos e, é lógico, café em pó. Daí surgiu seu apelido, “Pó”. Pequeno ainda, Arcílio ganhou o cognome de “Pozinho”. Como o negócio com pó é bom – os bolivianos que o digam – ele “batizou” seu filho e xará como “Poeira”. Esses apelidos causaram transtornos ao Pozinho. Certa vez a polícia cercou seu estabelecimento e quis saber onde estava a cocaína. Eu não cheirei, mas cheguei perto do Pozinho.
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