- Nosso Cantinho O IMPACTO 23.02.2013 Maurinho AdornoO roubo consentidoda manga Palmer do PepêOriginária da Ásia, a manga é uma fruta que se adaptou perfeitamente em países de clima tropical para a satisfação de seus apreciadores. No Brasil, ela proliferou pelos sítios e fazendas, e nos velhos tempos não tinha valor: servia de suplemento alimentar aos animais. A mais comum, a Espada, era muito fibrosa e eu preferia a Bourbon – sem fibras – e a Coquinho, pequenina e perfumada. Com a transformação genética, surgiram outras qualidades, mais aprimoradas, com excelente sabor, como a Rosa, a Aden, a Palmer, a Kent e a Tomy Atkins; o desenvolvimento biotecnológico fez com que nosso país passasse a ser um grande exportador. Eu como manga verde com sal, “in natura”, e na forma de suco. Eu sou fanático por manga. Roubada, melhor ainda.No ano passado, consegui uma armadilha tosca – um cano de alumínio com uma lata na ponta, engenhoca preparada por meu cunhado Ézio Gavazzi, grande amigo que nos deixou. Com meu sobrinho Thiago Adorno Albejante fomos “roubar” mangas nos inúmeros pés existentes na Avenida Santo Antonio, margeando o córrego. Um homem de 62 anos, colocando o parente de 22 anos no mau caminho. Refleti que, por estarem na via pública, elas eram de toda a população e eu, mogimiriano e pagador de impostos, tinha todo o direito de fazer uma colheita pequena para uso próprio, coisa de duas dúzias. Deixamos os pés com muitas delas para os transeuntes amantes da fruta.Às vésperas do Natal, eu e meu amigo Antonio Carlos de Oliveira, o Toninho de Oliveira, fomos até uma granja no bairro de Martim Francisco comprar leitoas para as festas de fim de ano. É costume de muitos anos. Na ida observei, na margem esquerda da estrada, um grande pé de manga Coquinho, completamente carregado, com frutas já caindo pelo chão molhado da manhã chuvosa. No retorno, não tive dúvida: pedi a ele que parasse e “roubasse” algumas mangas. A mangueira, é verdade, estava dentro da cerca, em propriedade particular, mas sua copa frondosa saía pela estrada. Leitoa no Natal como prato principal, e manga Coquinho como sobremesa.Um dia eu estava na fazenda de meu amigo Pedro Antonio Moreno e conversávamos sobre as frutas de um modo geral. Pedro Moreno tinha como cultivo principal a laranja, embora tivesse plantado de tudo na vida, incluindo legumes e verduras que vendia na feira livre do domingo, lá pelos meados do século passado. Mangas foi meu tema e, claro, não deixei de falar na Bourbon. Ele, com seu jeito peculiar, disse-me: “entre aqui”, indicando a porta de sua caminhonete. Em minutos estávamos chupando manga Bourbon debaixo de dois pés, no meio do plantio de laranja.Eu não sei se as magas me perseguem ou se eu as persigo. No sítio Rio Pequeno, no bairro Urutuba, em Mogi Guaçu, há pelo menos dois pés da manga Palmer. É propriedade de meu recente amigo Pedro Caetano Pereira, o Pepê, casado com a Teresa Santanielo, um protético que saiu da capital, chegou à região na década de 60, e foi recepcionado pelo jornalista Arthur de Azevedo e pelos cirurgiões-dentistas Waldemar Costa e José Martins Moreno Junior.Na primeira vez em que estive no sítio do Pepê, como sempre ouvindo as belas serestas dos amigos Zezé e Mazza - e comendo lambaris fritos - fiquei a admirar as mangueiras carregadas com aquelas enormes frutas. Deu água na boca. Confesso que fiquei envergonhado em pedir. Na segunda visita, época de fim de safra, umas poucas mangas me despertaram. Perdi a vergonha e indaguei:– Pepê, se alguma pessoa entrar em sua propriedade e roubar uma manga, qual a sua reação?Calmo, com voz pausada, o protético que também é cantador, me respondeu:– Eu não faria nada, Mauro. As mangas são de todos.Em minutos eu e a Maria Cunha Claro estávamos colhendo mangas Palmer, sob um maravilhoso arco-íris que despontou no céu, naquela alegre tarde de domingo.Maurinho Adorno é jornalista.mauro@cpimpacto.com
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