12/02/2013 - 03h30
Edson Rogatti: O risco de colapso das Santas Casas
As Santas Casas e hospitais beneficentes iniciam 2013 com dívidas de R$ 12 bilhões. Até o final do ano, o valor será de cerca de R$ 17 bilhões, considerando o deficit anual de mais R$ 5 bilhões nos contratos e convênios com o SUS (Sistema Único de Saúde).
Em 2011 --e a situação em 2012 foi semelhante, embora o rombo ainda não tenha sido totalmente contabilizado--, o custo nessas modalidades de atendimento foi de R$ 14,7 bilhões e a remuneração para as entidades, de R$ 9,6 bilhões.
Esse cenário se arrasta há anos e não existem indicações de que uma solução esteja a caminho. Nessas condições, muitas instituições não sobreviverão até 2014. Fecharão as portas ou diminuirão sensivelmente o volume de atendimento ao SUS.
Atualmente, a cada R$ 100 gastos na assistência pública, apenas R$ 65 são ressarcidos pelo governo. Essa diferença é ainda maior nos atendimentos de média e baixa complexidade, tanto ambulatorial como hospitalar.
Do total da dívida, 44%, ou R$ 5 bilhões, é devido ao setor financeiro, com a incidência permanente de juros. Ou seja, amanhã o valor já será maior. Esse passivo crescente, é importante lembrar, existe porque o SUS deixou de cumprir sua obrigação no acordo que celebrou com as instituições filantrópicas para viabilizar sua criação. Naquela ocasião, o Estado não tinha --e ainda não tem-- estrutura suficiente para oferecer o atendimento público e universal ao qual se propôs e é obrigado pela Constituição.
As entidades beneficentes são responsáveis por mais da metade do atendimento público no país. Embora tenham a obrigação de oferecer 60% da sua capacidade ao SUS, a grande maioria põe à disposição mais de 90%. Em várias, a assistência é integral. E 56% delas estão localizadas em municípios com até 30 mil habitantes, onde normalmente é a única alternativa gratuita para a população.
O colapso --ou mesmo a diminuição no atendimento para o limite da lei-- vai provocar um grave problema assistencial. E essa possibilidade é iminente.
O prejuízo é maior ao se analisar que os hospitais filantrópicos são eficientes. Operam com menos custos do que os federais e estaduais (que são cerca de cinco vezes mais caros) e recebem apenas um terço da remuneração paga às Organizações Sociais (OS).
Diante disso, as Santas Casas e hospitais beneficentes estão organizados em torno de reivindicações básicas, que consideram indispensáveis para o início de um processo de recuperação financeira.
No documento "Carta de Votuporanga", assinado por mais de 200 instituições que atendem a 31 milhões de usuários do SUS, solicitam 100% de reajuste sobre os cem procedimentos de média e baixa complexidade com maior incidência nos valores pagos pelo Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do SUS em 2011, os quais corresponderam a 84% do total das internações realizadas, devendo ser incluídas as diárias na área da psiquiatria.
O impacto será de R$ 6,8 bilhões, se alcançarem todos os prestadores, ou cerca de R$ 4 bilhões somente com o setor das Santas Casas e hospitais filantrópicos. Isso poderá ser efetivado por meio da contratualização ampliada a todas as instituições (possibilidade de aumento de receita por meio do estabelecimento de metas qualitativas e quantitativas).
Também pedem anistia das dívidas relacionadas a tributos e/ou contribuições, a partir de lei específica, bem como a possibilidade de reestruturação do endividamento bancário.
Sem essas medidas, 2013 pode ser o ano do colapso do atendimento público realizado pela rede filantrópica de saúde.
EDSON ROGATTI, 61, é diretor-presidente da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo (Fehosp)
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