Gazeta – 07.02.2013 - M E T R A L H A D O R A Maurinho Adorno
Brasi, refém do
norte e nordeste
Com a eleição de Henrique Alves à presidência da Câmara Federal e de Renan Calheiros para a presidência do Senado, o Partido do Movimento Democrático Nacional (PMDB) detém a hegemonia do poder legislativo brasileiro. E coloca nos cargos dois nordestinos, o primeiro do Rio Grande do Norte e o segundo de Alagoas. Nada contra o partido, pois esse domínio advém do apoio do Planalto e de inúmeras negociatas com os partidos da base de sustentação do governo da presidente Dilma Rousseff. Coisas da política. Ganha quem tem maioria ou poder de barganha, com a autonomia de oferecer cargos e benesses a rodo. O PMDB, outrora um partido que lutava pela democracia e pelos bons costumes, com seu novo quadro aprendeu que é melhor trabalhar à margem, pois dessa forma consegue emplacar suas figuras em cargos proeminentes, seja na administração pública direta como na indireta.
O partido envergonha a juventude originária do MDB de Ulysses Guimarães e André Franco Montoro – para citar apenas dois políticos proeminentes – ao colocar como candidatos políticos cuja folha corrida é permeada por denúncias de uso direto ou indireto de recursos públicos. E envergonha a todos os brasileiros, independente de cor partidária. É lastimável vermos uma foto do jornal “O Estado de São Paulo” em que jovens empunham cartazes e, em coro, bradam: “sem vergonha”, “safado”, “ladrão”, no exato momento em que Renan desfilava como presidente do Senado, escoltado pela guarda de honra do Congresso Nacional. Essa imagem está a correr o mundo, denegrindo um emergente que, com a força de seu povo e de seu empresariado, está se tornando uma potência econômica. Além da imagem de país do futebol e de carnaval com mulheres nuas e prostituição infantil, o mundo nos conhece na contemporaneidade, com mais ênfase, como país de políticos corruptos.
O norte e o nordeste mandam no Brasil. Os coronéis, velhas raposas políticas, continuam a dominar os cargos de relevância da administração pública direta e indireta, até que tenhamos uma mudança na representatividade dos estados em nossas casas de lei. Com todo o respeito aos irmãos dessas regiões, estados pequenos e de baixa densidade populacional, como Alagoas, Piauí, Rio Grande do Norte e outros, têm o mesmo direito de eleger três senadores. Eles se igualam a São Paulo e Rio de Janeiro. Têm o mesmo peso na hora do voto. Nortistas e nordestinos sabem se unir como irmãos para a obtenção de cargos e privilégios. Se fizermos um levantamento nas diversas esferas judiciais, notaremos que a maior quantidade de processos de corrupção contempla essa área brasileira. É preciso mudar.
As duas mudanças fundamentais compreendem o voto livre e soberano, com capacitação do eleitorado para que ele saiba exercitar corretamente seu direito e a mudança de representatividade política dos estados. Dois impasses. A população carente, especialmente do norte e do nordeste, é subserviente aos coronéis políticos, seus “painhos” como dizem, pois se satisfazem a custa de projetos paternalistas, como o são as bolsas do governo federal. Ela precisaria ter educação e cultura, além de emprego e renda. No que se refere a uma reforma política, adotando a proporcionalidade em relação à população é tarefa difícil a se considerar que são os próprios beneficiários do sistema atual, os políticos, que deverão fazer as leis. Norte e nordeste unidos têm maioria e será difícil esperar algo deles. Por ora, o Brasil está sub o julgo dos políticos dessas regiões. Resta saber até quando.
Mauro de Campos Adorno Filho
e ex-diretor dos jornais Gazeta Guaçuana e O Impacto.
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