Nosso Cantinho O IMPACTO 07.06.2014 – Maurinho Adorno
Um amor movido pelas
músicas do Roberto Carlos
Tirei a manhã de um domingo para ouvir o cantor Roberto Carlos, meu ídolo na juventude. Hoje é fácil ouvir músicas pelo computador, sintonizando através do Youtube.com. Passei pelos primeiros sucessos e fui relembrando o passado, como a noite em que ele esteve fazendo um show no Grêmio Mogimiriano. Naquele templo da música, o Rei da Juventude teve uma passagem que, eu acredito, ele jamais se esquecerá: um engraçadinho, em meio ao grande assédio dos fãs, se aproximou e o chamou de veado; levou do cantor um direto de direita no rosto.
Eu estava perto da cena, escutei a ofensa e presenciei o tumulto, com os guarda-costas afastando o ídolo da juventude da confusão. Roberto subiu ao palco sorridente, como se nada tivesse acontecido. Poderia até cantar uma única música “Quero que vá tudo pro inferno”, dedicá-la ao seu ofensor e cancelar o show. Nos dias de hoje, com tanta violência, não sei o que aconteceria. Um pedido de desculpas, em nome da agremiação e da cidade, foi feito pelo presidente do Grêmio. O rapaz não era mogimiriano e, segundo comentaram, seria de Santo Antonio de Posse.
Mas, deixando esse lastimável incidente de lado, e voltando às seleções musicais, ao final de uma delas ele cantou “Meu pequeno Cachoeiro”, em que fala da saudade de sua terra natal, a cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, de onde saiu aos 13 anos de idade, para ganhar fama em todo o país. Na parte da música, “Meu pequeno Cachoeiro, vivo só pensando em ti”, eu me transportei à fazenda da minha avó Sofia, na estrada que liga Mogi Mirim a Limeira. Não resta a menor dúvida que, pela semelhança da sonoridade, aparentemente eu ouvia “Meu pequeno cajueiro...!”.
Ao chegar à propriedade, lá estava ele, à esquerda da sede, com sua copa majestosa e frondosa. Era rico em frutas. Eu e meus primos passávamos horas e horas à sua sombra, comendo de seus frutos, com os cuidados recomendados por minha mãe: evitar contato com a roupa para não manchar. Suas sementes eram guardadas em uma lata por minha tia Cila, até ter uma quantidade suficiente para secar e torrar – métodos para extrair as castanhas de caju. E, na sequencia dessa lembrança, fui aterrissar em Natal, onde existe e sobrevive o maior cajueiro do mundo.
Três músicas de Roberto Carlos foram marcantes em minha vida com uma namorada. Eu estava com meus 18 anos e ela com uns 14, quando a conheci em uma festa de aniversário de sua Irmã. Ao chegar, deparei com aquela menina alta, linda, um verdadeiro monumento, despertando a atenção dos jovens. Nossos olharem se cruzaram e nos fixamos, olho no olho. Era amor à primeira vista, tenho certeza disso. Numa ação rápida para não dar tempo aos amigos, eu a tirei para dançar. Não foi preciso forçar, nossos rostos se colaram de maneira sublime e, confesso, fiquei corado e com as mãos geladas. A música na vitrola dizia tudo: “Como é grande o meu amor por você”.
Namoramos por um longo período. Ela morava com três tias em Indaiatuba e vinha a Mogi Mirim de quinze em quinze dias. E eu ia a Indaiatuba de 15 em 15 dias, de modo que ficávamos juntos todos os fins de semana. Não existia um encontro em que não escutássemos nossa música preferida, com um olhar apaixonado quando Roberto Carlos entoava o “Como é grande o meu amor por você”. Um dia me colocaram no centro de uma fofoca envolvendo seu pai com uma mulher da sociedade. Eu não tinha nada com a história, mas “paguei o pato”: seu pai proibiu nosso namoro.
Como não tive oportunidade de conversar com ela na minha cidade, na semana seguinte fui até Indaiatuba. Conversamos muito e houve até um momento em que pensei em fazer-lhe uma proposta, ao vir à mente a letra da música do Roberto, “Eu te proponho, nós nos amarmos, nos entregarmos, neste momento, tudo lá fora, deixar ficar...”. Mas, seria inconsequência, pois embora nos amássemos, não tínhamos estrutura para uma decisão dessas. Nós nos prometemos: não seria um rompimento, mas sim, uma separação momentânea. Nunca mais a vi. Sei que se casou, e espero que esteja feliz.
Por um longo período, após a separação forçada, diariamente vinha à minha mente a música do Roberto “Como vai você?”. Eu cantarolava para mim mesmo “eu preciso saber da sua vida, peça a alguém pra me contar, sobre o seu dia, anoiteceu e eu preciso só saber, como vai você?”. Dois anos após, tive notícias dela por duas vezes, e o interlocutor me confidenciou: “ela ainda te ama”.
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