Bruno Doro
Em São Paulo
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KARINA: "SERIA MAIS FÁCIL SE EU NÃO FIZESSE PARTE DO PC DO B" |
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Conhecida por sua garra dentro do garrafão, a argentina Karina chegou ao Brasil na década de 90, lutou para ganhar cidadania brasileira, mas não defendeu a seleção por veto da Fiba. No fim da carreira, virou atleta-dirigente, em Campinas e Jundiaí, onde foi responsável por equipes com patrocínio de multinacionais, e se envolveu em polêmicas, sempre criticando a administração do esporte. Tentou jogar até 2004. Desde então, passou a se dedicar à ONG e se aproximou da política. Hoje, aos 37 anos, é vereadora em Jaguariúna. Você é vereadora pelo PC do B e a ONG que coordena é recordista em repasses de um Ministério comandado pelo partido. Você não vê problema nisso? Acho que não. A preocupação que os críticos têm é que o projeto possa ter um enfoque político, mas essa argumentação cai por água abaixo quando você olha para as cidades em que trabalhamos. Temos núcleos em cidades de vários partidos. Se a natureza fosse política, só teríamos prefeituras da base aliada (do governo). Quando comecei, a única prefeitura do PC do B com que trabalhávamos era Ibaté. Hoje, o prefeito mudou para o DEM e ainda assim continuamos o projeto. Pertencer ao partido ministro ajuda? Pelo contrário. Só traz mais pressão. Seria muito mais fácil se não tivesse essa ligação. Sofremos fiscalização da Controladoria da União, do Ministério Público, do TCU, com denúncias anônimas. E até agora, não foram feitas críticas, apenas elogios. Eu até faria uma aposta. Não existe outra ONG no país que receba dinheiro público e publique os balancetes na internet como nós fazemos. Quando você se filiou ao PC do B? Há dois ou três anos. Eu era filiada ao PP. Eu sempre tive vida ativa política e me identifiquei com os planos do partido para o esporte. É direito de todo cidadão se identificar com uma causa. Eu, apesar de ser naturalizada, sempre sonhei em ver o Brasil realizando grandes eventos. Já tivemos o Pan no Rio, vamos ter a Copa do Mundo em 2014 e, quem sabe, as Olimpíadas de 2016. |
Nos últimos dois anos, Karina recebeu, pela Bola pra Frente, R$ 8,5 milhões para realizar o programa Segundo Tempo, que abre as escolas para a prática esportiva. O valor supera o que entidades de 12 estados, somadas, receberam para realizar a mesma ação governamental, no mesmo período.
Levantamento feito pela ONG Conta Abertas usando o Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal) mostra que o Ministério do Esporte manda para Acre, Amapá, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins, conjuntamente, R$ 8,4 milhões para o Segundo Tempo.
O mesmo estudo aponta que apenas os estados de Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo recebem, individualmente, mais que os R$ 8,5 milhões da Bola pra Frente. Baseada em Jaguariúna, na região de Campinas, a ONG é responsável, ainda, por mais da metade de toda a verba dedicada a São Paulo (R$ 16,7 milhões).
"A distribuição me parece distorcida. De 131 entidades beneficiadas, a esmagadora maioria (112) recebeu menos de 1% do total dispendido (pelo Ministério do Esporte). Dezenove entidades receberam, cada qual, mais de 1% do total. Essas, no agregado, receberam um total de 79,5% de todo o dinheiro. Ou seja, um desequilíbrio patente", afirmou, por e-mail, Cláudio Webber Abramo, diretor executivo da ONG Transparência Brasil, que analisou tabelas de gastos do Ministério a pedido do UOL.
Com tanto dinheiro circulando, a Bola pra Frente já foi alvo de investigações do Tribunal de Contas da União e da Controladoria Geral da União. Nenhum deles encontrou irregularidades. Um detalhe, porém, foge da esfera dos números: a ONG que mais recebe do Ministério dos Esportes é controlada por uma vereadora do PC do B, o mesmo partido de Orlando Silva.
A defesa de Karina para essa crítica é simples: "Em 2003, começamos com 400 crianças. Hoje, temos 18 mil. E temos núcleos em várias prefeituras. É um projeto suprapartidário. Temos prefeitos de toda a sopa de letrinhas, PT, PSDB, DEM", afirma a ex-pivô, eleita em Jaguariúna, no ano passado, com 642 votos.
"Minha ligação com o partido do ministro não ajuda. Pelo contrário. Em nenhum momento tivemos privilégios, só mais pressão e controle. Mas eu duvido que alguma ONG tenha os balancetes na internet, como nós temos", continua.
Questionado pela reportagem, Orlando Silva também negou favorecimento. Segundo ele, o projeto é grande e recebe mais verba do que outros municípios porque algumas cidades da região têm problemas jurídicos que impedem o repasse de verbas.
PARCEIRA DA ONG FOI MAIOR DOADORA PARA CAMPANHA | |
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LEIA A REPORTAGEM NA FOLHA |
Sede da ONG, Jaguariúna vive uma situação inusitada. Somando os repasses governamentais para ações no município, a cidade recebe, no total, R$ 17,5 milhões. Disso, 48 % vão para a entidade de Karina e apenas 28% para a prefeitura - que não realiza o Segundo Tempo.
Para o secretário de finanças do município, Vágner Brito, a divisão de custos é normal. "A ONG lida com um projeto muito maior do que Jaguariúna. Por mais que eu tente, não teria como gastar tanto. Além disso, o município trabalha com pessoal próprio, funcionários. Não precisa de verba do governo federal".
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