Mauro Adorno
Joaquim Ferreira Lima, o Quinzote, foi um dos mais renomados e consagrados cirurgiões dentistas do país. Pouco comum à época, foi a Chicago para fazer mestrado em odontologia, em 1950 e, com o conhecimento adquirido, passou a lecionar na Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade de Campinas, PUC. Manteve seu consultório na praça São José, ao lado da residência do Belmiro Finazzi, pai do Álvaro e da Marta, casada com meu amigo e excelente patrão, Reynaldo Gerbi. Poderia muito bem ter ido clinicar em cidades maiores, como Campinas, onde era reconhecido. Foi agraciado com seu nome na Escola de Aperfeiçoamento Profissional, da APCD de Campinas, e em uma das salas da PUC.
Quinzote era pessoa ímpar na sociedade. Tinha relacionamento com todas as classes sociais e praticava a caridade, concedendo tratamento dentário gratuito a pessoas necessitadas. Obviamente que cobrava valores expressivos dos que possuíam recursos, especialmente dos ricaços de outras cidades que estacionavam seus carrões às portas de seu consultório. Vinham para Mogi, pois sabiam que estavam diante de um dos mais competentes cirurgiões dentistas do país. Jogador de tênis, Quinzote era visto constantemente nas quadras ao lado do Mogi Mirim, em treinos e jogos com o jornalista Arthur de Azevedo, Milton da Silveira Pedreira, e com inúmeros outros amigos.
Aos que vinham de outras cidades, sempre enaltecia sua terra de berço. Indicava a todos a Sorveteria do Genaro, e fazia referências elogiosas ao trabalho artesanal da Eunice Valeriano Botelho, a Nice, a grande mestre do sorvete. Para as mais sofisticadas e endinheiradas, não deixava de propagar as belas antiguidades do Honório Longato, o Didi Longato. Uma delas, de nome Maria, vinha de Campinas e acabou por seu tornar amiga da família, em cuja casa sempre tomava um cafezinho de coador, primorosamente feito pela matriarca da família, Horminda Valeriano Longato, a Nana.
Maria, essa cliente do Quinzote, vinha toda perfumada, com um loção de sua própria fabricação, cuja essência vinha da Itália, terra natal de seu marido. E foi justamente esse perfume que causou furor na juventude mogimiriana, ao ser usado e posteriormente comercializado pela minha amiga Jane Longato, filha da Nana. Acredito que esse perfume tenha sido utilizado ardilosamente pela Jane para conquistar o Messias Urbine, seu esposo. Nessa linha de raciocínio, o Quinzote foi o responsável indireto pela união desse par mogimiriano.
Uma das frequentadoras do consultório era a Maria Joana Tavares, esposa do amigo de meu pai, Clodomiro Tavares, e avó do Clodomar Tavares. Inspetora de alunos do Grupo Escolar “Coronel Venâncio”, Dona Maria Joana, como era chamada, era quituteira aprimorada e sempre levava suas guloseimas para o dentista. Eram amigos. Como também era amigo o Benedito Ribeiro, o Dito Encanador, um dos mais requisitados profissionais da área naquela época. Ele rodava a cidade inteira com seu Fusca vermelho 1969, fazendo manutenção e instalações hidráulicas na maioria das casas. Era o responsável tanto pela casa como pelo consultório do Quinzote.
Naquela tarde, o pai das meninas Benedita, a Dita do Coral Santa Cecília, a Maria Luzia e Fernanda Ribeiro, estava no consultório fazendo alguns reparos, quando a Maria Joana chegou. Dito Encanador atendeu a porta e recebeu dela um melão como presente ao dentista. Ao invés de seus deliciosos quitutes e doces, ela o presenteou com aquela fruta, à época exótica e importada, provavelmente comprada em Campinas. “Sabe Dito, a Maria Joana é uma quituteira de mão cheia, a melhor doceira da cidade, faz um camafeu muito gostoso, mas, honestamente detesto melão”. E emendou “Dito, o senhor gosta de melão”? Dito pegou a fruta e já saía para apanhar seu fusca, quando ouviu do Quinzote “hoje a Maria Joana errou a mão”.
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