Políticos ainda não entendem as redes sociais
A consolidação das redes sociais como potente canal de comunicação tem levado os políticos, em verdadeiro ‘efeito manada’, a aderirem às mídias sociais. Todos desejam o status de Político 2.0, mas contam-se numa mão os que efetivamente sabem fazer uso das ferramentas para interagir com seus eleitores e conseguir dividendos políticos.
Há menos de um ano para as eleições municipais, muitos deles já estão em pré-campanhas e asmídias sociais não podem mais ser desprezadas nas estratégias eleitorais devido ao vertiginoso crescimento do número de internautas no país. Segundo um novo estudo do Ibope Nielsen Online divulgado no último mês de setembro, o Brasil registrou 46,3 milhões de usuários ativos em casa ou no trabalho, ficando em terceiro lugar no ranking mundial de (2011).
Assim muitos parlamentares têm investido grandes somas e esforços na contratação de assessorias especializadas em mídias sociais. É o início da corrida do marketing político eleitoral em 2012. Nos corredores do Congresso Nacional, em Brasília, prolifera uma nova categoria de comunicadores, os chamados “assessores de mídias sociais”, contratados a peso de ouro para atualização de perfis e postagem de conteúdo, mas mesmo assim os resultados têm sido pífios.
A causa para o fracasso do empoderamento das mídias sociais pela classe política é inacreditavelmente simples: eles tratam os usuários como uma massa amorfa e passiva pronta a assimilar qualquer mensagem. Por incrível que pareça, os políticos por ignorância ou por desconhecimento acabaram adotando o mais arcaico dos modelos de comunicação baseado na “Teoria Hipodérmica”.
Segundo este modelo, de conceito behaviorista criado nos anos 30, uma mensagem lançada pela mídia é imediatamente aceita e espalhada pela massa em igual proporção. Uma vez perdido na massa, a única referência que um indivíduo possui da realidade são as mensagens dos meios de comunicação. Dessa forma, a mensagem não encontra resistências por parte do indivíduo, que as assimila e se deixa manipular de forma passiva.
Daí ao inserirem o internauta num conceito de comunicação hipodérmica, muitos políticos caem no erro de valerem-se das mídias sociais como uma ferramenta comunicacional de mão única, ou seja, apenas para divulgar assuntos pertinentes aos seus mandatos ou fazer marketing político no período eleitoral. Nesse processo, eles acabam falando ao vento, no momento em que praticam uma comunicação assimétrica ao invés da simétrica e ignoram um preceito básico para o sucesso nas mídias sociais: a interatividade com os usuários.
Políticos 2.0
Essa foi uma das constatações obtidas pela agência Medialogue Digital responsável pelo lançamento em 26/11 de um estudo inédito que mostra como senadores e deputados federais usam a internet e as redes sociais para se comunicar com os eleitores. A pesquisa constatou que existem políticos que não mantêm sequer um blog ou uma conta de e-mail, vivem isolados do mundo digital como nos tempos da carta e do telefone. Há os que já fincaram os pés nesse mundo, mas ainda usam recursos digitais da mesma forma que usavam santinhos e faixas para disputar eleições, ou seja, como uma via de mão única na qual a participação do eleitor está restrita à contemplação.
A “Pesquisa Político 2.0 Deputados Federais e Senadores” foi coordenada pelo jornalista e diretor da Medialogue, Alexandre Secco. O levantamento coletou mais de 70 mil dados entre os dias 27 de junho e 9 de setembro e trouxe um retrato minucioso sobre como os políticos federais se relacionam com as mídias sociais. Os resultados não foram muito animadores. Segundo Secco a pesquisa encontrou no ar sites desatualizados e com problemas de funcionalidade, apontou políticos que ignoram emails e que desprezam ferramentas de interação com os eleitores como enquetes, constatou que muitos não divulgam agenda e compromissos, entre outros pontos desabonadores.
Por outro lado, a pesquisa mostrou que nem tudo está perdido e trouxe exemplos de parlamentares que incorporam o espírito de políticos 2.0 como o deputado federal Anthony Garotinho (PR/RJ). Diariamente seu site publica em média duas notícias. No blog são dez posts por dia útil em média. Sua conta noTwitter é alimentada com uma mensagem nova a cada três minutos. E o mais importante: quase 30 % dos posts no Twitter são de respostas de Garotinho aos seus seguidores.
Outro destaque positivo foi o senador Álvaro Dias (PSDB/PR) apontado como o maior blogueiro e o maior tuiteiro do Senado Federal em número de publicações. Publica um post no microblog a cada cinco minutos e cinco notícias por dia útil em média em seu blog. Ele mantém atenção com o público na internet e aproveita essas mídias digitais para expor sua opinião e engajar eleitores.
A falta de habilidade por parte dos políticos para interagir com os internautas leva a falhas no uso das mídias sociais que prejudicam o objetivo final como meio de comunicação. As mais comuns apontadas por especialistas são: excesso de autopropaganda, falta de interatividade, não atualização dos dados, foco em apenas um tema, fracionamento de posts no Twitter, mensagens que agridem a norma gramatical e principalmente ignorar críticas e não responder a dúvidas.
Para se ter uma idéia dessa dificuldade de interlocução com os seus seguidores, o senador petista Humberto Costa (PT/PE) e o deputado federal Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM/BA) usuários ativos das mídias sociais e bem colocados na pesquisa da Medialogue não foram capazes de responder a uma solicitação de entrevista para ilustrar esse artigo.
O curioso nessa situação é que segundo levantamento sobre o “Perfil dos usuários em mídias sociais” feito este ano pela agência ECmetrics, o internauta brasileiro já está inserido na era Web 2.0 e tem a internet um instrumento de busca por novidades, informação e sobretudo interação. Ele está disposto a dialogar, quer ser ouvido e participar nas decisões que competem aos produtos e serviços que utiliza, por meio das redes sociais e outras formas de atendimento online.
A partir do momento que as mídias sociais forem utilizadas como ferramenta de comunicação interativa pelos políticos e não como mero marketing político, a transparência, a cidadania e o processo democrático brasileiro sairão fortalecidos.
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