Aos finais de semana, costumeiramente, íamos à propriedade, para reuniões de família. Churrasco, moda de viola e jogo de truco – eu não consegui aprender – e muita conversa na casa de meus tios Benedito e Celisa Adorno Barbosa, a Cila, sempre na companhia de minhas primas Cely; Célia, casada com o Antonio Augusto de Campos, o Toninho da Funerária, e a Celisa Maria, casada com o falecido Geraldo Bianchi. O Dr. Barbosa, para nós Toninho, nem sempre estava presente, pois estudava Medicina em São Paulo e posteriormente foi trabalhar no Hospital das Clínicas. Evidentemente que participavam das reuniões outros tios e primos. E, dentre eles, Carlos de Campos Adorno, o Carlito, filho mais novo de meus avós, o único que teve a oportunidade de frequentar ensino superior. Formou-se em Direito, trabalhou na Caixa Econômica Estadual, junto com minha amiga Marta Barbosa, mãe do jornalista Jonas Alves de Araújo, e também no Posto Fiscal, onde ficou até seus últimos dias. Era um tio alegre e cativante. E gozador.
Um córrego atravessava a propriedade e era a fonte de abastecimento das casas. Era piscoso, com farta quantidade lambaris e bagres de excelente qualidade, tanto em seu curso como em seus diversos poços. Em suas margens, uma mata ciliar preservava as diversas nascentes. Era um espetáculo da natureza para encher os olhos de todos, e em especial, a pessoas como o empresário Ulisses Girardi, um ambientalista nato e devotado às causas do meio ambiente. A ação do homem, com os herbicidas e outros produtos químicos utilizados nas plantações, praticamente acabou com os peixes de nossos córregos. A ânsia para plantar, com o desmatamento desenfreado, está destruindo as nascentes. Eu espero que meus parentes estejam preservando essa fonte de riquezas que é o córrego que dá nome á região, Córrego Azul. Lá também é conhecido como Sapezal.
Nas pescarias familiares um trabalho à parte: minha prima Cely tinha pavor de minhoca e nós tínhamos que iscar seu anzol. Mas, naquela tarde ela não estava. Descemos ao córrego eu, meu tio Carlito, e meu primo Alexandre Nogueira Xandó, amigo de infância do Ederaldo Moreno, do Paulo de Tarso Souza e do Eduardo Posi Fernandes. Meu tio pescava a uns 10 metros abaixo de nós e começou a fisgar um lambari por minuto. Ria e mostrava para nós o peixinho ainda no anzol. E nós nada. Fomos para o “ponto” dele e ele desceu a uns 10 metros da gente. Mostrou mais uns 20 lambaris nos próximos 10 minutos. E nós, nada. Fomos ao seu encontro e pedimos para ver a peixada. O embornal estava vazio. Apenas um lambarizinho no anzol, com a boca estraçalhada de tanto ter sido arremessado ao córrego. E meu tio em gargalhadas. Caímos na história do pescador, um grande tio amigo.
Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista,
e ex-diretor dos jornais O Impacto e Gazeta Guaçuana.