domingo, 18 de março de 2012

DESABAFANDO - de Amanda Bia - LI, GOSTEI, DIVIDO COM VOCÊS...


Desabafando

Eu demorei para entender. Demorei tanto para pereceber o óbvio. Para notar que eu sempre estive sozinha. E que o mais triste não é se sentir sozinha estando sem ninguém. O pior é perceber que se estava sozinha junto com alguém. Sozinha junto é muito mais doloroso do que sozinha separado. Porque você imagina que deveria ter alguém ali, do lado te entendendo, te dando força. Mas na verdade você nota que só você que entende, só você quem dá força. E eu olho em volta e é como se aquilo tudo que todo mundo vive, não é para mim. Aquilo de mãos dadas, e compreensão, e anos de cumplicidade, simplesmente não é para ser meu. Simples assim. E eu vou afundando no meu mundinho de livros, e músicas e esmaltes... E vou me distraindo com o que tem para hoje. Uma novela ali, uma série acolá, uma lambida do cachorro. E tudo isso deveria ser suficiente. Deveria preencher esse vazio enorme que parece não ter fim. Mas não preenche. E o buraco vai ficando cada vez maior e mais profundo e deprimente. E não há livros, músicas e esmaltes que dê jeito. Nem a lambida do cachorro. E quanto pior eu fico, mais me sinto mal agradecida por reclamar tanto de barriga cheia, como diria minha avó. Mas a barriga nunca parece estar cheia. Por mais que eu tente empurrar tudo que vem guela abaixo. E será que por não estar cheia, eu posso então reclamar sem culpa? Provavelmente não. E eu tenho que conviver com o vazio, com as pessoas felizes ao meu redor que parece que conseguiram tudo aquilo que eu não consegui. E sempre tem alguém para me dizer que tudo vai ficar bem, que tudo vai dar certo, que é assim mesmo, mas tudo passa, não se preocupe... E eu não quero mais ouvir nada. Não quero mais consolos vazios. Frases pré-fabricadas para pessoas que não sabem lidar com essa mar de solidão como eu. Não quero mais escutar conselhos que eu tento seguir desde de sempre e que nunca me deram nada de volta. Não quero mais me sentir a reclamona chata. E talvez seja melhor guardar meus lamentos para mim mesma. Minha vida deslocada, sempre tão deslocada e sem rumo. Sempre parecendo tão decidida e objetiva, mas no fundo completamente perdida de frustrada. E eu penso, penso tanto em tantas coisas, que parece que a minha cabeça vai explodir de tantas idéias. E eu já não sei mais o que fazer. Já não sei mais a quem ou a o que recorrer. O vazio está levando tudo, como um buraco negro que varre tudo para dentro dele e não há nada que se possa fazer. Só esperar. Esperar que um dia tudo passe de verdade. E as coisas comecem a fazer o mínimo de sentido.

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