Nosso Cantinho O IMPACTO – 10.11.2012
A saga do milionário
e a língua do Luiz Klein
Maurinho Adorno
Após passar 15 dias em viagem à França e Itália, ao retornar ao seu sítio, o “Milionário da Mega Sena”, Antonio Reis, resolveu colocar um fim à sua vida de pequeno agricultor. Achou que não era justo trabalhar 10 horas por dia
, sob a chuva ou sol escaldante, após ter em sua conta bancária R$ 52 milhões. Reuniu a família e foi taxativo:
– Vamos mudar para a cidade, iremos morar em uma boa casa e viver uma nova vida, um pouco mais sossegada.
Em poucos dias adquiriu uma casa com três quartos, duas suítes, piscina e um quintal pequeno, pois não iria mais plantar ou ter criação e trocou a Brasília 1980 por um Corola automático preto, zero quilômetro e, depois de pedir desconto, pagou a casa e o carro a vista.
A chegada dos móveis novos adquiridos por sua esposa, a Vera Guerra, virou atração na pacata rua do bairro de classe média alta. Luiz Eduardo Klein, dono da loja de móveis, disse a um amigo:
– Logo o Antonio estará pobre como muitos que ganharam grandes prêmios nas diversas loterias.
Na televisão LED de 50 polegadas, Antonio assistia ao “Jornal Nacional” com a família. No primeiro intervalo, emudeceu o aparelho e disse em tom patriarcal:
– No mês que vem vamos todos para a escola. Vamos fazer um Supletivo e, ao mesmo tempo vamos estudar inglês, alemão e italiano. Depois, nós faremos testes vocacionais para saber a faculdade que cada um fará. É isso mesmo, cursaremos faculdade, como me aconselhou nosso médico, o Dr. Florentino Siqueira.
Após terem definido suas aptidões, Antonio resolveu cursar Administração; Rosa, Relações Públicas; José Antonio, o filho mais velho, Comércio Exterior, e a filha Shirley, Direito.
No período de estudos, Antonio conseguiu um emprego na empresa de adubos e fertilizantes Manah como representante de vendas e teve sucesso por conhecer os produtos e o meio rural. Enfim, falava a mesma língua que seus compradores. No banco, o dinheiro rendia. Não gastavam nem 5% dos rendimentos mensais.
No último ano de faculdade, Antonio reuniu a família e deu a notícia:
– Pedi ao professor Oliveira um projeto para montarmos uma fábrica de adubos e fertilizantes. Será pequena, mas trabalharemos unidos e unidos cresceremos. Eu administrarei, a Rosa cuidará das vendas, o Zé Antonio da importação de insumos, e a Shirley do pessoal e de eventuais problemas que a empresa poderá ter. Vamos investir em tecnologia e bons profissionais, como os químicos e engenheiros agrícolas.
Dois anos após estava fundada a “Adubos Reis”, na propriedade rural de 5 alqueires, mesmo local onde Antonio começou sua vida, e onde viveu por anos com a enxada nas mãos. O espaço excedente ao utilizado pelas amplas instalações foi destinado à pesquisa e teste dos adubos e fertilizantes. “É um campo de provas”, dizia Antonio aos visitantes, mostrando os canteiros para diversas culturas que receberiam seus produtos.
Uma das exigências de Antonio ao engenheiro químico contratado para fazer a composição de seus produtos era colocar o mínimo possível de agrotóxicos. Ele teve importante assessoramento de Ulisses Girardi, da Visafértil, um respeitado preservador do meio ambiente.
Com produtos de qualidade, a empresa cresceu assustadoramente. Centenas de caminhões entravam diariamente com matéria prima e outros tantos saíam com adubos e fertilizantes. A empresa tornou-se a primeira do segmento no Brasil e a maior exportadora para países da América Latina. Família unida, trabalhando também unida. Luiz Eduardo Klein, aquele da loja de móveis que previra o empobrecimento de Antonio, vendo um caminhão carregado da “Adubos Reis”, a maior empresa da região, deu a mão à palmatória.
– Queimei minha língua.
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