terça-feira, 26 de janeiro de 2010

A SABEDORIA DE UMA SENHORA DE 79 ANOS QUE MANTEM UM ÓTIMO BLOG...

Quem sou eu (uma senhora tem um belo blog - o blog da vovoneusa.blogspot.com - que vi, gostei e indico... Observe um pouco desta grande pessoa... UM VERDADEIRO SABERLADINO...)


Sou NEUZA GUERREIRO DE CARVALHO

Fico muito brava quando me chamam de Neuza Guerreiro ou Neuza de Carvalho. Não sou eu. Questão de identidade.

Estou, aos 79, anos saudável, integra o quanto se pode ser nessa idade, ativa, ainda entusiasmada e motivada a procurar novos projetos, novas atividades.

Não me chamo velha, não estou na Terceira Idade – a vida não se conta pelo número de anos vividos; não estou na Melho/ridade – porque podemos encontrar coisas boas em qualquer etapa da vida; não gosto de Feliz/idade porque soa artificial. Abomino todos esses nomes inventados. Mas Esther Alves Martirani propôs Longev/idade, Divers/idade, Oportun/idade e gostei. Na verdade me agradou mais a definição dada por um ex-reitor da USP, Jacques Marcovitch que chamou a nós de idade da “Juventude Acumulada”.
Prefiro dizer, mais poeticamente parafraseando Machado de Assis:

Estou naquela idade inquieta e duvidosa
que é um fim de tarde
e começa a anoitecer

Tenho uma idade cronológica, uma idade fisiológica, uma idade mental (cabeça sempre funcionando a mil por hora) uma idade cultural, outra comportamental. Sou como um camaleão e me comporto conforme a situação. Tenho “jogo de cintura”. Juntar tudo isso em um termo só é no mínimo muita pretensão.

Então, vou me colocar em uma faixa etária, numa idade cronológica – 78 anos – por questão de identificação temporal.

Não sou uma. Sou “várias”, sou múltipla.

O meu lado filial não existe mais. Fui filha de alguém que aos 97 anos se foi, lúcida até o fim, mas inválida, presa a uma cama há vários anos. E em função disso, todo um mundo de responsabilidades se despejou em cima de mim. E felizmente, outra faceta de minha personalidade aflorou com os anos: tolerância, paciência e empatia.

Tenho a minha porção doméstica que eu chamaria de Administradora do Lar, onde sozinha tenho que cuidar de comida, manutenção de eletrodomésticos que estão envelhecendo, precisando de cuidados maiores. Cuido principalmente do equilíbrio financeiro que é o mais difícil.

Alterno minha cabeça com Platão, Sócrates, com conhecimentos do pensamento de um Lèvi Strauss, com providenciar suprimento de sabão, papel higiênico, bananas, mamões, arroz... Uma transição nada fácil.

Meu lado profissional é necessário, uma vez que não se vive apenas com pensão e benefício de um INSS. Reservas? Não mais. E tenho minhas necessidades culturais que custam caro. Amo livros, sei das novidades, dos lançamentos, mas não posso ter meus livros preferidos e necessários para me dar mais bagagem cultural. O dinheiro não dá.

Administração financeira tenho que conhecer. Sou eu quem compra, quem usa racionalmente luz, água. Quem orienta possíveis auxiliares no uso também racional de comidas e tudo o que se usa numa casa. Tenho que dividir meus gastos com coisas essenciais e não essenciais. Entra aí uma escala de valores que é minha, pessoal. Não abdico de um jornal (ou mais de um quando posso), de livros. Não dá para viver sem telefone, sem celular (contatos profissionais e onde meu filho me encontra nas minhas muitas andanças), sem computador, porque é nele que todo o meu trabalho se desenrola, sem Internet, que me liga ao mundo, sem uma TV à cabo para assistir coisas boas e não só TV comercial nitidamente dirigida.

Moro bem por contingências da vida. Já estava aqui quando tinha melhores condições e agora é mais difícil sair do que continuar.

Tenho um carro de 14 anos, mas é um a questão de auto estima. Sinto-me mais gente quando dirijo, quando tenho autonomia, mesmo que não faça grande uso dele. Desloco-me muito bem de ônibus e metrô. Não tenho preguiça de andar e por isso vou a qualquer lugar. Se tiver que dispor desse carrinho vai ser penoso. Vai me tirar uma raiz secundária, fincada lá no fundo de minha vida.

Todas as emoções amorosas vivi plenamente e as esgotei em 46 anos de convivência e compartilhamento com a minha outra metade perfeita. Tudo o que sou hoje é a somatória, a mistura desses anos todos. Aprendi a viver a dois, aparar arestas, ser tolerante e respeitar a individualidade de cada um. E isso fica para toda vida. E tenho orgulho de dizer que fui uma esposa-amante, como todo homem deseja.

Com os filhos tenho relações biológicas e emoções maternais que duram enquanto eu durar. Com os netos, tudo isso em dose dupla. Amores diferentes, não roubam nada às emoções amorosas.

Hoje, dizem meus netos que sou empolgada demais com o que gosto, e faço questão de dividir com amigos tudo o que sei, o que aprendo e do que tomo conhecimento como coisa boa.

Sou IMPACIENTE, por conta talvez de minha deficiência auditiva. Mesmo ajudada por próteses auditivas nem sempre ouço o suficiente. Muitas vezes tenho que deduzir o final de uma frase para captar o sentido. Barulho ou muita gente falando junto me irrita e não ouço nada. Tenho que administrar melhor esse problema.

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