sábado, 23 de março de 2013

GIANOTTO - FAMÍLIA DO SR.ANTÔNIO E DNA. MARIA DAVOLI GIANOTTO É RELEMBRADA NA CRÔNICA DO MAURINHO...


  • Nosso Cantinho O IMPATO 23.03.2013 Maurinho Adorno
    A infância alegre e feliz
    do menino “enxuga bule

    A infância nos trás gratas lembranças que acredito jamais se apagarão de nossas memórias. Os jogos de rua, as brincadeiras, as conversas dos adultos, e outras passagens, hoje se resumem em saudade. Nas proximidades de minha casa existia o bar do Antonio Gianotti, onde comprávamos 10 balas ou 10 bolinhas de gude por um conto de reis. Minha mãe era freguesa do “pão feito em casa” da dona Maria; eu era o encarregado de buscar um deles diariamente às 14 horas, quando saía a fornada. Quentinho, para o café da tarde. Às vezes minha mãe fazia bolinho de chuva, sequilho, brevidade ou biscoito de polvilho, mantendo a tradição de sua ascendência mineira. Nada de doces industrializados, tudo era feito com produtos de primeira qualidade, como o ovo “caipira”, e com o maior requinte, o amor.
    A vida era difícil. Meu pai, funcionário público, ganhava baixo salário, o mínimo para alimentar e educar seus 9 filhos. De vez em quando minha mãe comprava sorvete de um dos vendedores ambulantes que tocavam a corneta à nossa porta, anunciando a guloseima. Felizes nós ficamos quando entrou a primeira geladeira em casa: teríamos sorvete constantemente. Em verdade, suco de limão, abacaxi ou groselha. Minha mãe congelava em forminhas de metal – não havia ainda as formas plásticas. Sorvetes do Genário era impraticável, só possível às famílias abastadas. Era produto artesanal, feito com esmero. Foi só aos 14 anos, quando comecei a trabalhar, que comecei a desfrutar das delícias da Nice Botelho. Tenho na lembrança que, ainda nessa idade, cheguei a vender limão Taiti do sítio da minha avó ao Genário.
    Acredito que foi através do colega de bancos escolares, Ângelo Silva, que fiquei conhecendo a Fábrica de Balas Zanovello, instalada à Rua Paissandu, nos fundos da residência do Ivo Zanovello. Era de propriedade dele e do seu irmão Remo. Ivo era pai da advogada Gleide. Por muitos anos ela foi o braço direito do advogado e professor Geraldo Philomeno. Hoje, segundo Carolina, sua prima itapirense, ela mora em Praia Grande. Eles fabricavam vários sabores, mas a de coco queimado era deliciosa, mais ainda pelo fato de demorar a derreter na boca. No final da tarde, no encerramento das atividades, os grandes tachos eram raspados para tirar os excessos que ficavam incrustados em suas bordas. Essa era a hora em que nos postávamos à porta da fábrica para ganhar raspadinhas, misturadas em diversos sabores. O afável Ivo nos atendia, sempre solícito.
    Dona Maria Joana Tavares, a inesquecível e enérgica inspetora de alunos do Grupo Escolar “Coronel Venâncio”, foi singular em minha vida. O fato de seu marido Waldomiro trabalhar com meu pai no Instituto de Menores, resultou em amizade sólida entre nossas famílias. Dona Maria Joana, em seu tempo livre, fazia deliciosos doces e vendia a seus amigos por toda a cidade. De quando em vez passava por nossa casa e nos brindava com suas deliciosas guloseimas. 
    Os doces sempre estiveram presentes em minha infância. Minha mãe fazia em tacho de cobre. Era uma quantia enorme, mas necessária a uma família de nove filhos. No doce de abóbora, ela colocava cal virgem, para que ficasse consistente. Meu pai apreciava doce de figo e de laranja, ambos em calda. E eu me deliciava. Quando não tinha doces no estoque eu atacava a lata de açúcar cristal que ficava na despensa. Às escondidas, é claro. Como o café era bem adoçado, eu esperava meus irmãos se servirem e tomava todo o restante, sempre quente, uma vez que o bule era mantido no fogão a lenha. Dona Maria, minha mãe, em tom de brincadeira, me chamava de “enxuga bule”.

    Maurinho Adorno é jornalista.
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