sábado, 15 de junho de 2013

DELAÍDE - AGRADÁVEL CRÔNICA DO MAURINHO ADORNO QUE SERVE DE INCENTIVO A TODOS ESTUDANTES DE DIREITO, MOSTRANDO QUE O ESFORÇO COMPENSA...

Nosso Cantinho O IMPACTO 15.06.2013
Conheça Delaíde,

um exemplo de mulher
Maurinho Adorno
Joaquim Barbosa é um exemplo de pessoa simples que chega a um alto cargo
na vida pública do país. Filho de um pedreiro, ele saiu de casa cedo, enfrentou 
a capital federal, trabalhou em gráfica de jornal, estudou muito e, por mérito, hoje preside a Suprema Corte brasileira. Contudo, não são somente os homens que vencem mercê do esforço pessoal: hoje vou contar a história, verídica, de uma menina pobre e simples que atualmente frequenta, em alto cargo, os palácios da Justiça de Brasília. Se fosse nordestina, diria que ela é “arretada”.
Na pequena cidade de Pontalina, em Goiás, justamente no Dia do Trabalho, 1º. de maio de 1952, nasceu uma menina, uma dos nove filhos de um casal de agricultores. Seus pais, eu acredito, a teriam batizado com o nome de Adelaíde, mulher nobre, dinâmica e sábia. Como a família era humilde, simples e nada nobre, devem ter resolvido contornar a situação: deram-lhe o nome de Delaíde. Seu futuro estava predestinado: trabalhar na lavoura e, quem sabe, um dia ser uma costureira na cidadezinha, hoje um polo na confecção da moda íntima. Era o que lhe restava em um município com menos de 5.000 habitantes. Hoje Pontalina tem um pouco mais que 17 mil.
Desde criança, Delaíde deu mostras de que, se não era nobre, era sobejamente dinâmica e sábia. Precisava crescer e ter uma vida com dignidade, com um padrão de vida melhor do que seus pais poderiam proporcionar. Elegeu duas importantes vertentes à sua vida: trabalho e estudos. Humildade era um ponto fundamental para que conquistasse seus sonhos. E assim, anos 15 anos, iniciou sua carreira profissional: doméstica, evidentemente sem registro em carteira. O salário era dividido, parte para aquisição de material escolar e parte para auxiliar seus pais no orçamento doméstico.
Pontalina era muito pequena para a jovem “dinâmica e sábia”. Não poderia continuar a viver em uma cidade que contava apenas com um cinema que exibia enlatados algumas vezes por mês. Salvavam as sessões do Tribunal do Júri – um dos principais eventos da cidade. E lá estava ela, sentadinha ouvindo os embates da Promotoria com os advogados de defesa, e admirando a sapiência dos juízes ao proferirem as sentenças. Seus olhos brilhavam. Um dia estaria lá, de toga, analisando os autos e proferindo suas próprias sentenças. Mas, como crescer na pequena cidade? Era preciso dizer “adeus” ou um “até breve” aos seus familiares e amigos.
Os 124 quilômetros de estrada de terra batida até Goiânia pavimentaram a vida de Delaíde. Sabia que teria que enfrentar inúmeros problemas, talvez mais difíceis dos que os 2,5 quilômetros que separavam sua casa e a escola, percurso percorrido diariamente sob o sol ou a chuva, nos tempos de criança e adolescência. Estava ela na capital, com dois problemas: custear moradia e os estudos. Não teve dúvida: foi trabalhar como doméstica em uma república de estudantes, em loja de materiais de construção e como recepcionista de construtora, sempre com os livros embaixo do braço. 
Delaíde formou-se em Direito, em despeito às dúvidas de seus familiares e à incredulidade dos moradores de Pontalina. Iniciou uma brilhante carreira e provou sua capacidade ao conquistar uma das vagas do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ao enfrentar 28 colegas dos mais variados cantos do país. Pontalina sente orgulho de sua mais destacada filha. Não é preciso destacar que, com esforço, fé e coragem, conseguimos construir nosso futuro. Essa mulher guerreira, “dinâmica e sábia”, Delaíde Alves Miranda Arantes, é hoje ministra do Supremo Tribunal do Trabalho. 

Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista,
ex-diretor dos jornais “O Impacto” e “Gazeta Guaçuana”.

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