quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O COALHEIRA, A LEI DA GRAVIDADE E O NITRATO DE OURO - HISTÓRIAS DOS POLÍTICOS DA CIDADE DE MOGI GUAÇU: UM SHOW EM CRÔNICA - UM ADORNO À BOA LEMBRANÇA DA ANTIGA POLÍTICA GUAÇUANA... QUANTA HISTÓRIA À NOSSA MEMÓRIA!


Sob a ótica de Maurinho Adorno - Gazeta 05.12.2013
O coalheira, a lei da 

gravidade e o nitrato de ouro 
Uma cidade, por mais nova que seja, tem histórias marcantes, sempre relembradas pelos seus moradores mais antigos. Seu desenvolvimento econômico, seu avanços na área política e, especialmente, no âmbito social, são subsídios importantes, indispensáveis à projeção de seu futuro. Reverenciar suas ilustres figuras é um resgate obrigatório dos historiadores. Há de se resgatar também as curiosidades, os fatos pitorescos e os “causos” que tornam mais amenas as dissertações da comunidade.
Mogi Guaçu, bela cidade do interior paulista, entrou em minha vida profissional no final na década de 60, quando tive a oportunidade de conhecer e conviver com os ilustres prefeitos Antonio Giovani Lanzi, o Nico Lanzi, e Waldomiro Calmazini, o Miro Calmazini. Pessoas simples e sérias, eles deixaram a todos nós um legado de seriedade no trato da coisa pública, além de eficiência administrativa. A cidade era pequena, mas, proporcionalmente aos dias de hoje - considerando a população e o orçamento municipal - eles foram grandes realizadores.
Antagonistas da família Bueno, eram maldosamente chamados de coalheiras - um artefato de couro afixado no peito de cavalos, burros e bois, de onde saíam cordas que puxavam os arados. Nico e Miro sabiam do apelido, mas não se importavam. Espertos e inteligentes, ficavam quietos e se faziam de vítimas. É lógico, o feitiço vivou contra o feiticeiro, e eles se elegeram prefeitos da cidade.
Mogi Guaçu se expandia, e um deles resolveu aumentar a capacidade de reserva de água. Contratou, com licitação, empresa Serete Engenharia para fazer os estudos para a localização e construção de uma nova caixa d’água. Projetos prontos, engenheiros da empresa determinaram a capacidade do reservatório e sugeriram dois locais para a execução da obra. Após examinar as plantas, o prefeito indicou um local onde, sob seus olhos, a caixa d’água ficaria bem posicionada para os olhares dos guaçuanos. Era um terreno baixo, às margens do rio Mogi Guaçu. Um engenheiro da empresa contratada se dirigiu ao chefe do executivo:
– Senhor prefeito, no lugar em que o senhor quer, o projeto irá ferir a lei da gravidade.
Com sua maneira simplória de ser, o prefeito garantiu:
– Não há problemas, nós revogamos essa lei.
Afinal, ele tinha maioria na Câmara de vereadores. Ao seu lado, o secretário do prefeito interrompeu e pela primeira e única vez falou:
– Prefeito, o senhor não pode revogar essa lei, pois ela é federal.
Consta nos anais das rodinhas dos antigos políticos guaçuanos, uma “pérola” de um desses dois prefeitos. Sua esposa foi à Santa Casa para ter um filho, e ele estava exultante e apreensivo – todos ficam nessas ocasiões. A cada 10 minutos, ele saía da recepção e ia ao corredor que levava ao centro cirúrgico, perguntando, a cada enfermeira que encontrava, se seu filho já havia nascido. Até que, após duas horas de expectativa, viu o médico encarregado de realizar o parto sair da sala, ainda com o avental branco. Ele correu e perguntou:
– Nasceu doutor? É homem ou mulher?
O médico didaticamente contou:
– Nasceu e está muito bem, é homem, com peso de 4,100 quilos. Sua esposa passa bem. 
As informações não bastavam. Ele queria entrar na sala de parto e ver sua esposa e o primogênito. Assim, fez o pedido ao médico. Tranquilo, o profissional da medicina falou pausadamente:
– Agora vou voltar lá e, para que seu filho enxergue bem, vou mandar pingar nitrato de prata nos olhinhos... 
O prefeito, feliz, com sorriso no rosto, interrompeu o médico:
– Doutor se for por dinheiro, não há problema, pode aplicar nitrato de ouro.

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