domingo, 8 de dezembro de 2013

PÉ ESQUERDO - UM DIA DE CONTRATEMPOS... Outra crônica apreciadíssima e comentada do sapiente amigo de longa data - MAURINHO ADORNO - imperdível!

Nosso Cantinho O IMPACTO 07.12.2013
Um dia de contratempos,
levantei com o pé esquerdo
Maurinho Adorno

Naquele dia eu devia ter me levantado com o pé esquerdo, pois estava irritadiço. Engraçado é que havia dormido bem, sem maiores problemas a me atormentar, exceto os comuns do dia a dia, coisas que sempre soube administrar. O café da manhã não estava legal, parecia que o pó de café era batizado, como aqueles em que misturam a casca para ganhar maior peso. Enfim, nem sempre um cafezinho é igual ao outro, mesmo que seja da mesma marca. O Pelé em algumas partidas não marcava gols, era inconstante, mas é o rei, o rei do futebol, e eu não poderia esperar constância de seu café. O negócio era tocar o dia. Ler os jornais impressos e assistir aos da televisão, como faço todos os dias. As manchetes pareciam ser as mesmas do dia anterior: corrupção, barganhas políticas, acidentes causados por embriaguez, assassinatos, assaltos e outros crimes e até a derrota do Palmeiras. Nada que viesse a me irritar mais, nem mesmo a derrota de meu time preferido. Meu dia começa, efetivamente quando ligo o computador, vejo as correspondências, leio outros jornais e revistas, e acesso o banco para administrar a conta bancária.
Eu estava navegando pela rede mundial de computadores, quando me foi servido mais um cafezinho, o mesmo com gosto de palha e, no primeiro gole, sofro um espasmo muscular no bíceps direito e todo o líquido do copo – tomo café em copo – foi direto ao teclado do computador. A máquina apagou. “Não há problemas, é só secar”, pensei. Panos de prato e um secador de cabelos foram as armas utilizadas. Tudo seco, eu religuei a máquina e nada. Desparafusei o teclado e percebi que tinha um pouquinho de café. Sequei tudo cuidadosamente, religuei o computador e nada. Cheguei à conclusão que meu computador não gosta de café.
Liguei no suporte técnico da Dell e eles diagnosticaram: teclado queimado. Prometeram trocar por um novo em 24 horas e o fizeram. O jeito, para continuar o dia, foi arrumar outro computador, pedir ao Carlinhos Manara ao transferir os arquivos para prosseguir com o dia. Tudo foi feito no período da manhã. Nesse momento, estava aliviado, mais ainda com a cabeça quente. Tinha a tarde toda para recuperar o tempo perdido com a queima do teclado.
Na hora do almoço, arroz, feijão, saladas, couve fatiada refogada e bife de contrafilé mal passado, com aquela gordura ao seu entorno, do jeito que eu gosto. O arroz e feijão foram feitos na hora, as verduras frescas, todos temperados ao meu gosto, como sempre acontece. Mas, o contrafilé acebolado estava duro como pedra. Observei isso à minha esposa e ela retrucou que era da mesma compra feita no dia anterior, na Casa de Carnes Lovo, e que eu houvera comido no dia anterior e até tinha elogiado. “Você está irritado, deve ser isso”, disse ela. 
Após o almoço, comecei a me perguntar o porque acordara irritado, uma vez que não tinha motivo aparente. O negócio era sair, dar umas voltas pelas ruas de minha cidade para espraiar um pouco, antes de me dirigir ao trabalho. Antes, verifiquei o painel do carro, especialmente para os níveis de gasolina e óleo e, indiscutivelmente, a bateria. Só faltava ficar parado na rua, esperando o atendimento da seguradora. Mas, estava tudo normal e me dirigi à sede do jornal em que trabalhava. Lógico, de espírito preparado para os problemas corriqueiros. Bastavam os problemas do período da manhã. 
A tarde corria bem, até que por volta das 16h00 me liga minha gerente do Banco do Brasil, perguntando se eu estivera às 3 da madrugada em São Paulo e pago uma churrascaria com cartão de crédito, no valor de R$ 253,00. Expliquei que estava em casa, em Mogi Mirim, dormindo, provavelmente tendo pesadelos, tais os problemas daquela manhã. Clonaram meu cartão, mas tudo resolvido, pagamento cancelado e a certeza de que em 5 dias úteis eu receberia um novo cartão em minha casa. A gerente prometeu e cumpriu. 
Eram 16h30, pensei: “e se eu tiver um infarto do miocárdio hoje, será que o meu cardiologista Jaime Guerreiro Franco estará na cidade para me atender?”. Será que posso me envolver num acidente de carro? Comprei comprimidos do sublingual Isordil e fui para casa. Era, para mim, o local de maior segurança. Para evitar qualquer contratempo, fui para o quarto, escureci o ambiente e deitei. Dormi até as 06h00 do dia seguinte. Ao acordar, me certifiquei que levantaria com o pé direito. Aliás, daquele dia até hoje, deito de um lado da cama de maneira que, ao descer, o pé direito é o primeiro a chegar ao chão, pois cheguei à conclusão de que naquele tumultuado dia, eu levantei com o pé esquerdo.

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