domingo, 4 de maio de 2014

O BOM E VELHO CINEMA - O ADORNO DAS CRÔNICAS, AS QUAIS NOS LEVAM AOS BONS TEMPOS... Quem não teve seu filme inesquecível? E o tempo,também! Vamos recordar...


Nosso Cantinho O IMPACTO 03.05.2014 – Maurinho Adorno
O bom e velho cinema

Acho que nasci cinéfilo. Com interesse apenas em assistir filmes, e não nos mecanismos que fazem as películas chegarem às telas. Poderia dizer que sou vítima da cinefilia. Mas, não posso afirmar que é uma doença de nascença, pois na minha infância não tinha dinheiro para frequentar as sessões infantis do Cine São José, nas manhãs e tardes dos domingos. Pela televisão, só tive acesso muito tempo depois, embora os filmes fossem raros e só eram apresentados anos após seus lançamentos.
Minha memória não me trai: o primeiro filme que assisti foi “A Ponte do Rio Kwai”, uma produção anglo-americana, retratando um dos episódios da Segunda Guerra Mundial, acontecido na Tailândia. Um grupo de prisioneiros britânicos foi encarregado a destruir a ponte, sob o comando do coronel Nicholson. Depois de vencerem as dificuldades, galhardamente os prisioneiros, esfarrapados e famintos, veem um trem se aproximar da ponte, para sua inauguração. Assim, os japoneses conseguem dinamitar a verdadeira obra de arte, executada em madeira.
Não foram apenas as tramas da construção e da destruição da ponte que me marcaram naquele dia. A excitação começou logo pela manhã, quando meu tio Humberto Lodi, anunciou o presente. Na rua ainda, ganhei um saquinho de pipocas – quentinhas - vendido pelo velho Módena, pai do ex-vereador José Jorge Módena. No saguão, na pastelaria da família Okiara, meu tio comprou mais de uma dezena de balas.
A tela era descomunal, maior que o espaço do gol do campo de futebol do Mogi. Tocada a campainha, anunciando o início do espetáculo, cenas deslumbrantes que aparentavam ser reais. Os bombardeios e os tiros de fuzis de japoneses e ingleses pareciam estar sendo disparados na sala de espetáculos. Confesso, tive medo. Mas, não era para menos, pois tinha entre 10 e 12 anos e os que viveram naquele tempo sabem do que estou falando.
Nessa época, meu pai me levou para assistir um filme de Amacio Mazzaropi, um dos maiores comediantes da época, sempre encarnando a pessoa simples do interior, o caipira. Em seus filmes, normalmente exibidos por dois ou três dias, as filas para entrada se estendiam por mais de 200 metros pela calçada da Rua Padre Roque até as bilheterias do cinema. Era sucesso de público.
Porém, com mais idade, aos 14 anos, já trabalhando e ganhando meu dinheirinho, comecei a frequentar as salas do São José, em duas sessões destinadas aos menores: o zig zag, sessão matinal, às 10h00, e a matinê das 14h00. O bom mesmo foi ter idade suficiente para frequentar as sessões noturnas, com seus filmes “impróprios” a determinadas idades. 

O cinema daquela época me remete ao Orlando Bronzatto, o Pintaca, que, por décadas, foi o responsável pelas exibições. Por diversas vezes, eu o vi na rodoviária retirando as latas de filmes que vinham por ônibus da capital. Lembro também dos cartazes grandes, coloridos, colocados às portas do cinema, feitos por verdadeiros artistas que morreram incógnitos.
Em nossos dias, sou um cinéfilo caseiro. Assisto a diversos deles durante a semana. Assisto em termos, porque em muitos deles acabo dormindo. E existe um fato que, acredito, não seja privilégio somente meu: dormir após a metade da película e acordar com os letreiros dando crédito aos atores. Nem chego a ver o “The End”. Mas, a verdade mesmo, é que nas salas de cinema a sensação é maior, além da satisfação proporcionada pelo passeio.
Numa época em que a tecnologia corre a passadas largas e se discute o fim de determinados meios de comunicação e de entretenimento, tenho a mais clara certeza de que o cinema é perpétuo, nas salas, em casa, nos computadores e até mesmo nos celulares. Dormindo um pouco ou não, sou fã da 7ª. arte. Para mim, a 1ª. arte.

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