sábado, 28 de abril de 2012

MAURINHO ADORNO - DO SEU CANTINHO: MARIA AMÉLIA, A COMPRADORA DESENFREADA...


Meu Cantinho O IMPACTO – 28.04.2012
Maria Amélia, a compradora desenfreada
Maurinho Adorno
Na agradável noite da sexta-feira, dia em que entrou na Matriz de Santa Cruz para se casar com a Maria Amélia, o contador Adriano não sabia que estava ganhando um dos maiores problemas de sua vida. Padre Clodoaldo Nazareno de Paiva, o Padre Paiva, centrou seu sermão na necessidade do compartilhamento das alegrias e tristezas, das realizações e frustrações, enfim, da cumplicidade necessária para que a união fosse levada “até que a morte os separe”. Padre Paiva sabia, por confissão, que Maria Amélia era portadora da doença conhecida como bipolar, em que as pessoas vivem momentos de euforia e, em seguida, de depressão. Ela, em seus momentos em que aflorava a aparente alegria, tornava-se uma compradora compulsiva e saía pelo comércio gastando em compras quase sempre supérfluas. E Adriano não tinha conhecimento desse distúrbio de sua amada.
Eles começaram o namoro no pomposo Baile de Debutantes dela, no Grêmio Mogimiriano, promovido pelo cronista social Luiz Antonio Balzanello, abrilhantado pelo Super Som TA. Nos sete anos distribuídos entre namoro e noivado, Adriano notava os relógios, brincos, pingentes, colares e anéis usados por Maria Amélia, adornos que deixavam sua bela morena ainda mais sedutora. Nem mesmo o Escort XR3 conversível, amarelo com algumas listras pretas, era indicativo de alguma anormalidade digna de um diálogo ou ponderação por parte dele. Afinal, ela havia nascido em berço de ouro: seu pai, Jerônimo, herdara uma grande fazenda, onde criava milhares de cabeças de gado nelore, cuja renda era engordada pela receita proveniente da plantação de soja, em área de aproximados 500 alqueires, faturamento que permitia dar à filha um ótimo padrão de vida.
A casa de 300 metros quadrados, no Jardim Áurea, presente do Jerônimo, estava completamente montada. Móveis, eletrodomésticos e eletrônicos de última geração - presentes doados pelos padrinhos e convidados. Com apenas uma semana de casada, portando um cheque especial do Banespa, conta conjunta com o marido, Maria Amélia foi até a loja do Aristides Trentin e comprou uma TV Colorado RQ e pagou a vista, sem consultar o marido. Justificou que era para o quarto, para assistirem à sua novela e as partidas de futebol que ele tanto gostava. Adriano entendeu e até achou ótima a ideia. No sábado, logo às 9 da manhã ela saiu para umas “comprinhas”. Voltou às 12h30 com quatro vestidos, três casacos, três pares de sapatos e dois relógios. Tudo comprado nas melhores boutiques, com cheques da conta conjunta. Adriano surtou ao ver as sacolas. Maria Amélia ao seu lado, feliz da vida.
As discussões se prolongaram até as 15 horas, sem direito a almoço. Aos prantos, já em estado de depressão, Maria Amélia tentou justificar, dizendo que aproveitara os descontos e que fizera boas compras. Não demorou a confessar: “Não consigo me dominar, sou compradora compulsiva”. Adriano respondeu de bate pronto: “e eu sou um assalariado”. Embora tivesse bons rendimentos como contador de uma multinacional da região, seu salário era insuficiente para aquele padrão de vida – ou compras. À noite do mesmo dia estavam os dois na casa dos pais dela, frente a frente com o Jerônimo e a matriarca dona Esther. Conselhos e mais conselhos. Até a ideia de enviar a menina para escutar as sábias palavras de Padre Paiva. Contudo, no íntimo todos sabiam de que nada adiantariam as tentativas de enquadrá-la. Experiente e de pulso firme, como era sua característica, Adriano decretou: na segunda-feira ela irá a um psiquiatra.
No dia da consulta, ainda no período da manhã, Maria Amélia passou na loja de presentes do Santinho Coppo, e comprou um jogo de jantar de porcelana francesa Limoges, igualzinho ao que tinha recebido de presente de sua madrinha Hilda. Era pirada, realmente. Louças pagas com cheque especial. Com limite estourado. O psiquiatra, depois de uma longa consulta, receitou Seroquel. Seis meses passados e Maria Amélia continuava desenfreadamente em suas compras. Parecia que os remédios faziam efeito ao contrário, pois quanto mais ela tomava, mais freneticamente ia às lojas e boutiques. 
A situação financeira do casal estava um verdadeiro caos. Cheque especial no vermelho, papagaios e contas atrasadas em todo o comércio. Hábil em contas, Adriano fez diversas engenharias financeiras, renegociando dívidas, fazendo novos parcelamentos. Mas, de nada adiantava: Maria Amélia sempre arrumava uma desculpa para novas comprinhas. A situação financeira estava deteriorando o relacionamento do casal. Adriano se viu num impasse, separar-se da mulher amada ou vender a casa, pagar as contas, e manter a relação conjugal. Vendeu a casa.
Mauro de Campos Adorno Filho é jornalista,
e ex-diretor dos jornais O Impacto e Gazeta Guaçuana.

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